Priorizar a formação de atletas. Essa é uma das propostas de Paulo Carneiro, caso seja eleito presidente do Vitória, no pleito que acontece no dia 24 de abril.
“É claro que o Vitória precisa retomar o caminho que o fez diferente em toda a sua história. Pelo menos a contemporânea. Porque lá na década de 1950 o time era feito em casa também, só não tinha categorias inferiores. Mas não haviam transações, raras eram as transações de atletas. Uma das nossas prioridades é fazer o Vitória reencontrar seu projeto de formação de atleta. Para isso é preciso implantar uma política institucional. Onde no mínimo metade dos seus atletas tem que ter vindo da sua formação. Não gosto do nome ‘base’, gosto de formação. Isso é que o Vitória precisa. Não pode ser um ou outro, tem que ser sistêmico, político. No nosso plano nós temos um programa de coach esportivo para o Vitória. Que deve minimizar essa falta, mas isso deve acontecer num espaço de três a cinco anos, porque tem que pegar o garoto sub 15 para ele chegar aos 20 anos estar pronto para jogar no Vitória e pronto para o mercado. Um vasto programa que vai fazer o Vitória ter jogadores de excelência feitos em casa”, afirmou.
Paulo Carneiro também prometeu reestruturar o clube. “O Vitória terá um novo organograma, e com mudanças estruturais importantes no departamento de futebol”, destacou.
Qual é o seu principal projeto para o Vitória? O carro-chefe da sua campanha?
Nossa preocupação não é de hoje. Se o sócio torcedor tivesse feito a melhor escolha talvez o Vitória não estivesse passando pela situação que passa hoje. Nós já trabalhamos para a deposição de Ivã de Almeida, mas nem assim o sócio se satisfez. Foi vendida para o sócio uma imagem de que o Vitória precisava de um candidato novo, com novas ideias. Ivã foi o primeiro candidato "novo" e Ricardo David o segundo, o mais falante, mais fluente, que conseguiu o recorde de ter 100% de suas propostas não cumpridas. Nosso movimento, que é de históricos rubro-negros, acoplados com outros rubro-negros – talvez sem tanta representatividade, porque não tiveram uma quantidade de cargos majoritários, porque o cargo é que dá a dimensão –, tem pessoas tão importantes quanto. Foi justamente nós que já sentíamos a situação do clube se agravar a cada dia. O grande projeto do Vitória é devolver ao seu torcedor a esperança, a sua capacidade de sonhar, esse é o grande projeto nosso e através das nossas ações nós vamos realizar. Devolver o entusiasmo, a alegria de ver seu time jogar, e não aquele jeito macambúzio, triste, que eu tenho visto nos estádios, no torcedor.
Você é um entusiasta das divisões de base, é um reflexo até da suas antigas gestões quando foi presidente do Vitoria. Isso ficou bem evidente em 1993, por exemplo. Quais serão as prioridades nas divisões de base?
É claro que o Vitória precisa retomar o caminho que o fez diferente em toda a sua história. Pelo menos a contemporânea. Porque lá na década de 1950 o time era feito em casa também, só não tinha categorias inferiores. Mas não havia transações, raras eram as transações de atletas. Uma das nossas prioridades é fazer o Vitória reencontrar seu projeto de formação de atleta. Para isso é preciso implantar uma política institucional, em que no mínimo metade dos seus atletas tem que ter vindo da sua formação. Não gosto do nome "base", gosto de "formação". Isso é o que o Vitória precisa. Não pode ser um ou outro, tem que ser sistêmico, político. No nosso plano nós temos um programa de coach esportivo para o Vitória que deve minimizar essa falta. Mas isso deve acontecer num espaço de três a cinco anos, porque tem que pegar o garoto sub-15 para ele chegar aos 20 anos e estar pronto para jogar no Vitória, pronto para o mercado. Um vasto programa que vai fazer o Vitória ter jogadores de excelência feitos em casa.
Caso você seja eleito, como será a relação com as torcidas organizadas?
Continuo com o pensamento de que o torcedor tem que ser sócio. Torcedor pra mim é uma coisa só, vamos tratá-los igualmente. Os torcedores do lado leste, oeste, são torcedores, são nossos. Olhando de forma comercial, são nossos clientes, e assim serão tratados. Com regras, direitos e obrigações igualmente colocados. Não terá diferença. O tratamento será sempre o mesmo. A torcida organizada com certeza não fará atos de violência no estádio, nós iremos proibir. Isso afasta o torcedor do estádio. Espero que seus dirigentes estejam convictos de que nós vamos fazer a família rubro-negra voltar ao estádio. E eu conto com qualquer torcida. Eu prefiro chamar de grupos de torcedores e não de torcidas organizadas. Esse termo é sinônimo de quê? De terror, violência, morte. Eu prefiro falar de grupos de torcida.
Falando de futebol agora, a Série B já está na porta e se você for eleito vai ter pouco tempo para trabalhar. Como anda a prospecção de jogadores?
Você só pode prender um jogador se fizer um compromisso. Eu não posso fazer nada. Eu tinha um goleiro fantástico para trazer para o Vitória, o goleiro assinou com outro clube. Não quero comentar [quem é] para não gerar especulação, mas não tenho o que fazer. O empresário está no meio do processo, como um corretor de imóveis. Na hora que aparece uma oportunidade ele vai ficar esperando uma eleição pra tomar decisão? Não é possível. Só temos ideia do que queremos. Temos certeza do que vamos fazer, mas não podemos fazer nada por enquanto. No máximo ficar monitorando e rezando. Para que depois das eleições, se sairmos vitoriosos, esse monitoramento possa se transformar em um contrato real. Pré-contrato, essas coisas, é mentira.
É verdade que você já tem uma parceria encaminhada com um clube da Europa?
Mentira. Não existe parceria. Sabe por quê? Porque o clube é estrutura sem fins lucrativos. Não existe parceria. No futebol, para você ter parceria tem que ter academia de futebol que seja referência. Para atrair um parceiro não para o clube, mas para o futebol. Ele pode fazer investimentos para que você forme atletas, e depois fazer uma divisão de direitos econômicos. Mas com a lei da Fifa a gente só pode partilhar direitos econômicos com clubes. Nem com pessoas físicas, nem jurídicas. Então não adianta um investidor chegar no Vitória para ser parceiro porque a lei não permite. Ele tem que ser dono de um clube, e aí pode fazer parceria. O Vitória não está com a barraca arrumada, vamos arrumar isso e aí sim atrair investidores e parceiros para o futebol.
Você já anunciou que pretende mudar o horário de treinos no Vitória, caso seja eleito. Explique um pouco melhor essa metodologia?
Na realidade o Vitória terá um novo organograma, e com mudanças estruturais importantes no departamento de futebol. A primeira é que teremos um coordenador de metodologia física e técnica. Ou seja, as categorias terão o mesmo tratamento e importância. E serão implantados métodos de trabalho iguais, isonômicos. E quem vai implantar são os dois coordenadores, o técnico e o físico. O treinador vai trabalhar sobre a metodologia implantada dele, vai representar a metodologia do clube. Claro que no profissional o treinador tem toda a liberdade para, dentro dessa metodologia, ele implantar o que achar que é bom. Mas dentro da linha mestra que vai ter. Haverá mudanças no hábito de treinamento. Eu entendo que de manhã é o melhor período para se treinar. Outra coisa, não teremos dois turnos, a não ser em uma semana livre, que é muito raro ter, ou se a fisiologia indicar uma necessidade de carga de trabalho, de força, velocidade... Agora na maioria das vezes o treino será em um turno só. Às 8h o atleta chega no clube para tomar café, porque eu não sei se ele tomou café em casa, e depois vai para fisioterapia, onde vai ter um trabalho preventivo. Ele vai participar de grupos de risco: risco de joelho, de tornozelo... A fisioterapia tem uma importância muito grande na prevenção. Os atletas vão treinar de manhã e a comissão técnica vai preparar o treino do outro dia à tarde. À tarde as comissões técnicas vão trabalhar, mas no escritório, tecnicamente, avaliando os adversários, e acompanhando os lances e detalhes importantes dos próximos adversários de todas as categorias. E os coordenadores de metodologia acompanhando o trabalho todo. Essa é uma grande revolução que faremos no futebol do Vitória. Agora [em relação aos] resultados o torcedor vai ter que ter um pouco de paciência. Isso tem um tempo, uma maturação. Mas acredito que em 2020, se a gente resolver o problema de caixa do clube, que não vai ser fácil, que é o maior que nós teremos, o Vitória estará a plenos pulmões. Dentro de uma rotina de clube de primeiro mundo, e sendo tratado assim.
Você vencendo a eleição, qual será o primeiro ato de impacto que pretende tomar?
Não tem ato de impacto para um clube que está na situação que está. Não tem medida política para fazer média com o torcedor. Não tenho esse perfil. Meu perfil é de trabalhar. Meu pessoal é igual. Temos que trabalhar, nos debruçar sobre fluxo de caixa, entender o tamanho do problema, e ir para o mercador ver o que conseguimos reformular no elenco. Tudo isso vai acontecer ao mesmo tempo, não tem ato de impacto. Não tem nada pegando fogo que eu vou chegar lá com Corpo de Bombeiros.
Na sua opinião, qual foi o principal pecado de Ricardo David à frente do Vitória?
O principal pecado foi ele pensar um dia em estar dentro do Vitória. Não é o lugar dele. O resto é consequência. Quando ele decidiu ser presidente ele cometeu o maior pecado contra a instituição que não merecia tê-lo lá dentro do clube. Ele hoje continua dentro da politica do clube, apoiando candidatos, querendo estar vivo, porque tem pessoas sem noção. Tem gente que não tem noção da realidade e acha que prestou um bom serviço ao Vitória. Pior é isso. O outro, Ivã, fazia a mesma coisa, está na internet até hoje se defendendo. O grande problema de Ricardo é que ele nunca deveria ter passado perto do clube e quem o trouxe foi [o ex-presidente do Vitória, Carlos] Falcão, que deve ter hoje um grande arrependimento.
Existe possibilidade de sua candidatura ser indeferida. Como você está vendo esse movimento? E sobre Valter Seijo saindo candidato? Ele é seu aliado, seu amigo, como você vê essa candidatura? É um plano B?
Sobre a candidatura de Valter Seijo, você tem que perguntar a ele. Eu acho um grande nome. Temos pensamentos comuns claros, trabalhamos juntos por 17 anos, mas é uma chapa dele, não posso falar em nome dele. Com relação a essa possibilidade de impugnação eu acho que é muito remota, porque vai pra mesma comissão que já aprovou a minha [candidatura], e eu não entro em detalhes jurídicos, isso aí está com nossos advogados. Apenas posso dizer que hoje minha candidatura está absolutamente deferida. Impugnação é um processo político, só lamento que o Vitória ainda tenha candidatos desse nível. Para criar esse tipo de situação. No fundo muitas dessas pessoas não pensam no clube, o clube é só disfarce. Essas pessoas pensam em si, nos seus interesses. E eu tenho autoridade para falar porque eu passei 17 anos no Vitória trabalhando, realizando, vencendo, às vezes perdendo... faz parte do processo. Mas deixando uma obra fantástica, com jogadores de série A e seleção no elenco. Você tem que analisar no futebol, não pode ser pontual, não pode esquecer o legado da obra. Felipão em 2014 trouxe para o Brasil o pior fracasso da história, e ele hoje é o quê? Treinador do melhor time do país, campeão brasileiro. Então tem que olhar a obra do cara, o legado. Quantos atletas Paulo Carneiro deixou quando saiu? Muita gente até fala, difama, é desleal. Quem foi que deixou David Luiz, Marcelo Moreno, Xavier, Anderson Martins, Jardel titular do Benfica, Edilson? Esses jogadores estavam no elenco do Vitória. Isso é obra, isso não se consegue em um ano, é um projeto. E essa é a proposta que eu trago de novo para o torcedor, trazer de volta um elenco desse nível. Agora, que existe uma perseguição de torcedores e associados, existe. São as pessoas que estão acopladas com meu adversário mais importante, que é Raimundo Viana. A chapa Vitória Torcedor mudou de nome, mas não a chapa inteira, porque as pessoas, quando viram o horror que era, foram renunciando. Perceberam que ele não era o caminho para o Vitória. O sócio tem que definir o que ele quer da vida do clube, nós não vamos poder fazer muita coisa, só se a gente tiver o poder. Eu digo porque somos um grupo de pessoas rubro-negras e preocupadas com o clube.
Cláudio Tencati continuará no comando do Vitória, caso você seja eleito?
Em tese, sim. Por que mexer? Quando você tem uma casa desarrumada... o que eu não concordo é com esses dez jogadores colocados à margem, rapazes que nunca conheceram o vestiário. Você coloca jogador pra treinar à parte, uma briga que você tem com um empresário, com o próprio jogador... Eu já fiz isso muitas vezes. Quando você bota dez, quando aquele chuveirinho desce depois do treino, o clube está morto. Porque você tem um grupo ali, tem que ser um corpo monolítico. Você tem que tratar o jogador com transparência, com verdade, até quando ele não serve, tem que respeitá-lo. O Vitória não está respeitando seus jogadores. Eles não pediram pra vir pra cá, não pediram para serem contratados, e agora vão ficar ganhando pra treinar separado? Eles devem ter ouvido alguma entrevista minha, foram copiar. Treinar separado não é desta forma, no atacado. Aí, meu amigo, o clube sente demais.
Deixe um recado para o torcedor do Vitória.
O que queremos passar para a torcida é que preste atenção e não se deixe levar por falsos discursos, por ataques. Eu venho sendo atacado de forma desleal, por alguns canais de mídia, até de rádio. O torcedor presta atenção. De um lado tem o sucesso, esperança, sonho. Do outro lado a insegurança, fracasso, pesadelo. Tem que escolher qual lado quer para o clube nesse momento, vivendo a pior crise da sua história.Fonte:Bahia Noticias