Sérgio Moro é uma fraude. E não estou falando do tempo dele de magistratura ou mesmo como ministro da Justiça e Segurança Pública. O ídolo do lavajatismo usa de má-fé ao se apresentar como uma pessoa de centro no espectro político. É uma interpretação bem peculiar do mundo. Moro é um personagem de direita, com flertes claros com a extrema-direita. E se pinta como centro para negociar com outras forças após a frustrada tentativa de se dissociar integralmente do governo de Jair Bolsonaro.
Toda a confusão começou quando jornais do Sudeste divulgaram um encontro entre o ex-juiz e o apresentador Luciano Huck, acontecido em outubro. É o agendamento perfeito para sugerir uma ampla coalizão, incluindo aí o governador de São Paulo, João Doria, como a construção de um caminho alternativo entre o bolsonarismo e o lulopetismo. Por mais que todos esses sejam importantes personagens da cena nacional, há uma tendência à supervalorização das figuras, amplificando os respectivos papéis na construção de 2022.
É um discurso que agrada bem ao eleitorado de direita, que se esconde como eleitor de centro. Aliás, tanto a direita quanto a esquerda, para evitar perder votos, tentam fingir ser partidos de centro. Porém, após a ascensão de Bolsonaro em 2018, a esquerda passou a se apresentar de maneira mais explícita do que essa “neo-direita” brasileira. Existe um esforço, até da imprensa, para colocar o bolsonarismo e os aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como faces opostas de uma mesma moeda. Uma farsa repetida muitas vezes para se tornar verdade. Moro deveria assumir o protagonismo nesse papel, mas se traveste de bom moço, equilibrado e preocupado com o país.
Huck tende à direita. Porém uma direita caviar, mais próxima ao modelo do PSDB paulista, agora liderado por Doria. E o movimento dele, até aqui, o coloca mais como um possível candidato desse espectro do que de centro. Os flertes e conversas com figuras como o governador do Maranhão, Flávio Dino, tentam dar uma roupagem de frente ampla, quando, na verdade, há interesses que estão longe de se tornar públicos. E servem para tentar deslegitimar uma eventual mobilização feita por Dino, por exemplo, para construir o próprio nome numa disputa - o governador comunista é apresentado como uma alternativa da esquerda ao modelo lulopetista.
Para apagar o incêndio do encontro entre Moro e Huck, o apresentador convidou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), para um almoço em que desmentiu um acordo com o ex-ministro. Foi uma tentativa de conter os danos na relação ainda tímida com o DEM, que talvez tenha sido o único partido de direita a perceber uma demanda por uma candidatura de centro. Tanto que o presidente da legenda, ACM Neto (DEM), fez uma negociação direta com Ciro Gomes (PDT) para costurar alianças em 2020, com olhos na sucessão presidencial.
Moro não é de centro. Huck também não. Pena que há uma dificuldade enorme em dar nomes aos bois. Se for para construir uma “frente ampla em defesa da democracia”, é preciso saber quem é quem no tabuleiro político brasileiro. E o ex-ministro não tem lugar de fala para clamar por um julgamento justo. O apresentador ainda pode aprender. Fonte:Bahia Noticia