O vídeo do deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ), com apologia ao AI-5 e ataques aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), mobilizou não apenas a agenda pública do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). As horas seguintes à divulgação do vídeo foram marcadas por conversas reservadas entre ele, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ministros da Corte.
Nos bastidores, a prisão de Silveira já era dada como certa antes mesmo do ministro Alexandre de Moraes determiná-la. Ele é o relator dos inquéritos que apuram atos antidemocráticos e fake news e Silveira é alvo em ambos.
Segundo apuração do jornal O Estado de S. Paulo, enquanto o vídeo alcançava grande audiência e repercutia entre integrantes do Poder Judiciário, Lira ligou para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e pediu uma avaliação sobre o conteúdo. Mas Bolsonaro, que é usuário frequente das redes sociais, teria dito apenas que não sabia de nenhuma gravação, contou um parlamentar que acompanhou a conversa.
Com isso, Lira tentou conversar com Moraes, mas soube, inicialmente, que ele estava viajando. Quando, enfim, conseguiu falar com o ministro, a ordem de prisão já estava assinada.
No entanto, interlocutores do presidente da Câmara acreditam que nenhuma conversa teria evitado a prisão. No vídeo, Silveira levanta suspeitas sobre a atuação de Moraes no STF. “Será que você permitiria a sua quebra de sigilo temático? A sua quebra de sigilo bancário?”, questionou no vídeo.
De acordo com a publicação, foi o ministro Gilmar Mendes que encaminhou a Lira a reação do vídeo na Corte. Ciente disso, o presidente da Casa chegou a discutir um acordo em reunião com interlocutores. Segundo a proposta, ele próprio pediria desculpas públicas ao STF, ressaltando que o posicionamento de Silveira não representava o entendimento majoritário da Câmara.
Assim, o pepista atenuaria a situação, dissociaria a Casa das ameaças feitas por Silveira e ainda evitaria que a Câmara tivesse que decidir se mantém ou não a prisão do deputado, como diz a Constituição.
Por outro lado, Lira não aceitou a sugestão de interlocutores de criticar diretamente o parlamentar, sob o argumento de que ele tem o direito de se manifestar. Mas, diante dessa postura, quem ajudava na interlocução desistiu.
Como nada disso adiantou e os outros 10 ministros da Corte referendaram a decisão de Moraes, o Conselho de Ética da Câmara foi reativado para julgar o caso e o resultado é incerto. A posição conjunta do Supremo pode contribuir para que os deputados mantenham a prisão, considerando ainda que muitos deles são investigados na Corte, incluindo o próprio Lira.