“Retrato total do desespero”. Assim descreve a delegada titular da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Contra Criança e o Adolescente (Dercca), unidade especializada da Polícia Civil da Bahia (PC-BA) que apura o caso de uma recém-nascida deixada pela mãe, uma mulher de 27 anos, no banheiro da Terminal de Ônibus Acesso Norte, em Salvador, nesta quarta-feira (reveja). A mulher foi presa em flagrante nesta quinta (27), por abandono de incapaz, após ser identificada quando caminhava na Estrada das Barreiras, no bairro Mata Escura.
Nascida no dia 18 de maio, na maternidade do Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), no bairro Tancredo Neves, são estes os primeiros relatos da vida da bebê, ainda sem nome, que foi encontrada numa poça de urina em um banheiro por uma preposta da Transalvador que atua no terminal, antes de retornar ao local de seu nascimento, onde permanece sob cuidados médicos. Os detalhes prévios ao desfecho trágico não são, no entanto, menos angustiantes.
Em depoimento, a mãe da criança relatou que só soube da gravidez no último dia 17, quando, acometida por dores abdominais, que acreditava ser uma versão mais severa de cólicas menstruais, deslocou-se para Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do HGRS e, por dificuldade de atendimento, migrou para a maternidade daquela mesma unidade hospitalar. A mulher, então, foi atendida, a gestação constatada e o parto feito no dia seguinte.
É somente neste momento que entra em cena a terceira figura essencial da história, o pai da criança. Segundo a mãe, o homem, que é casado, ao saber da existência da filha fora de sua relação oficial prometeu uma ajuda financeira, a qual deveria ocorrer em segredo. De acordo com Simone Coutinho, com base no depoimento prestado pela mãe, o pai da criança, apesar de ter explicitado que não cumpriria suas obrigações legais, foi buscar a mulher e a criança quando da alta hospitalar e chegou a tentar “dissuadir” a mãe da ideia de “livrar-se da bebê”, mas sem êxito.
“O pai da minha filha é casado, não quis assumir o relacionamento comigo, me disse para eu criar a filha sozinha e que ele ajudaria em segredo. Que não estava disposto a romper a relação dele para ficar comigo”, contou a mãe, emendando que a partir daí se desesperou e decidiu deixou a criança no boxe do banheiro da Acesso Norte. Junto com a criança foi encontrado um cartão de vacinação no qual constavam os dados da mãe. A informação facilitou a identificação da mulher, porém, o endereço registrado na maternidade era falso.
À polícia, a mulher afirmou que, após deixar o bebê na estação, ficou perambulando pelas ruas e retornou para casa a pé. Ela vive com a mãe e um outro filho de três anos em uma residência localizada nas imediações do local onde foi encontrada pela equipe da Dercca. Segundo a mulher, sua mãe - avó da criança - também não tinha conhecimento da gravidez. Ao retornar para casa, ela justificou que a hospitalização ocorreu por consequência de uma cirurgia para retirada de “pedra no intestino”.
Na manhã desta quinta, horas antes de a mãe da criança ser presa, o pai da criança teria feito contato com ela por telefone, pedindo para que “não o prejudicasse com a Justiça”. Ela respondeu que “iria correr atrás”. A investigação policial também está a procura do homem.
Ao Bahia Notícias, a delegada Simone Moutinho relatou ter ficado em choque ao ouvir da mãe da criança questionamentos sobre o motivo da prisão. Afirmou que “isso [abandonar o bebê] é uma coisa muito comum, corriqueira”.
A delegada alerta para a possibilidade de que mulheres que têm gravidez não programadas e que não desejam ficar com as crianças podem, já no hospital, falar com a assistente social ou ainda procurar os conselhos tutelares durante a gravidez, informando que não pretendem ficar com as crianças para que elas sejam encaminhadas a órgão da rede de proteção.
“Isso é muito importante. Vai ajudar a mulher naquele momento da sua vida que não está preparada para tanto. E também a proteger a vida e a integridade física dessas crianças advindas desses momentos peculiares de seus genitores”, pontua Simone Moutinho.
A recém-nascida já está sob cuidados do Conselho Tutelar para que sejam continuados os trâmites legais. Caso a guarda da criança não seja reclamada por nenhum familiar, ela deverá ser encaminhada para adoção. Fonte:Bahia Noticias