Ministros do TCU (Tribunal de Contas da União) ficaram escandalizados com a manipulação de dados do relatório sobre a Covid-19 que tramita no órgão. De acordo com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o documento questionaria 50% dos registros de morte por Covid-19 no país –o que é mentira.
Bolsonaro fez a afirmação em conversa com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada na manhã desta segunda-feira (7). E disse mais: afirmou que teve acesso ao relatório e que já tinha passado a informação para três jornalistas de sua confiança. As falas foram registradas e divulgadas em vídeo.
"Em primeira mão aí para vocês. Não é meu. É do tal de Tribunal de Contas da União. Questionando o número de óbitos no ano passado por Covid. E ali o relatório final não é conclusivo, mas em torno de 50% dos óbitos por Covid ano passado não foram por Covid, segundo o Tribunal de Contas da União", diz Bolsonaro na conversa com apoiadores, registrada em vídeo.
"Esse relatório saiu há alguns dias. Lógico que a imprensa não vai divulgar. Eu tenho três jornalistas que eu converso, não vou falar o nome deles, que são pessoas sérias, né. E já passei para eles. E devo divulgar hoje a tarde. E como é do Tribunal de Contas da União, ninguém queira me criticar por causa disso."
Em seguida, o portal R7, da Igreja Universal do Reino de Deus, divulgou a informação de que "apenas quatro em cada dez óbitos (41%) registrados por complicações da doença seriam efetivamente resultado da contaminação do vírus".
O portal afirmou que o documento no qual se baseava tinha sido "citado por Bolsonaro" nesta manhã na porta do Alvorada. E disse que obteve "um trecho do relatório elaborado pelo TCU" por meio de "fontes do Palácio do Planalto".
Ao mesmo tempo, um documento apócrifo passou a circular nas redes sociais com os mesmos dados, e como se tivesse sido elaborado com informações e conclusões oficiais do TCU.
O relatório do TCU, no entanto, não diz nada do que afirmou o presidente da República, e em vários trechos afirma que pode inclusive haver subnotificação de casos de Covid-19 no Brasil.
A única vez em que toca na possibilidade de superdimensionamento de casos é o trecho em que afirma que os critérios de transferência de recursos adotados pelo Ministério da Saúde aos estados e municípios, com base no número de infectados, poderia, em tese, levar algum gestor a elevar artificialmente as notificações.
De acordo com um dos ministros do tribunal, essa parte do texto, feita por técnicos, tratava de uma hipótese, uma possibilidade, uma tese, jamais comprovada pela realidade.
Ele repete que o TCU nunca questionou o número oficial de óbitos por Covid-19 no país, que já passa dos 473 mil.
Os integrantes do tribunal não pretendem, porém, discutir ou se contrapor publicamente ao presidente. O órgão deve se limitar a desautorizar as informações.