O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) poderá contar com uma base parlamentar robusta caso apoie ou não crie obstáculos para a tentativa de reeleição do atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP). Integrantes do centrão sinalizaram que estão dispostos a servir como base de apoio para o governo do petista.
Mesmo tendo sido eleito para o comando da Casa com a ajuda do presidente em exercício e ser um aliado de Bolsonaro, Lira foi uma das primeiras autoridades a reconhecer a vitória de Lula no domingo (30), logo após o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) declarar que o resultado estava matematicamente definido.
Segundo apurou a Folha de S. Paulo, um dos principais recados passados por Lira foi de que a "vontade da maioria manifestada nas urnas jamais deverá ser contestada". O parlamentar também tem prezado por desarmar o palanque e pacificar o país.
Interlocutores ouvidos pelo jornal avaliaram que uma aliança com os políticos de centro e direita seria algo benéfico para ambas as partes, tanto para Lula como para Lira. Assim, o bolsonarismo radical no Congresso seria isolado a partir de 2023.
A união seria feita em um processo mais lento e encontraria resistência por parte de Renan Calheiros (MDB), próximo a Lula e adversário de Lira em Alagoas.
A atual base da esquerda conta com cerca de 120 deputados. Somada a membros de siglas de centro hoje independentes, como PSD, MDB e União Brasil, deixaria Lula com menos da metade da Casa. O quantitativo não seria suficiente para aprovar emendas à Constituição, por exemplo.
Um acerto com Lira facilitaria a adesão de uma parcela do centrão que não é bolsonarista para a reeleição de Rodrigo Pacheco (PSD) no Senado, o que é bem-visto pelo PT.
Uma corrente diz ainda que uma possível aliança entre Lula e Lira pode incluir desde já um nome mais à esquerda para a sucessão do parlamentar no comando da Câmara, em fevereiro de 2025.
O "Orçamento Secreto", criticado por Lula, pode ser considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Caso isso ocorra, cumprirá a expextativa dos petistas.
O centrão, no entanto, espera que um acerto Lula-Lira inclua a manutenção das emendas, em um formato diferente e, talvez, num valor menor que os R$ 19 bilhões usuais do governo Bolsonaro.
Uma base sólida na Câmara permitiria a aprovação de emendas à Constuição e evitaria convocações de ministros em comissões, Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) e abertura de pedidos de impeachment.
Desde a campanha eleitoral circulam alguns nomes potenciais que poderiam ser respaldados por Lula, caso ele decida enfrentar Lira. Estão na lista o presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), o presidente do MDB, Baleia Rossi (SP), e o presidente da União Brasil, Luciano Bivar (PE).