O governador da Bahia acha que o povo foi para as ruas questionar a política em geral, e não o PT em especial, e que as manifestações que atingiram o Brasil não impedirão a presidente Dilma Roussef - que nesta quinta-feira, 4, estará em Salvador e teve queda de popularidade - de garantir a reeleição em 2014. "Como Lula é do meu lado, eu estou tranquilo". Ele tampouco desanima de fazer um petista seu sucessor.
O que achou das manifestações no desfile do 2 de Julho, muitas vaias?
Não achei não, achei até pouca. Achei normal. O 2 de Julho é o dia do protesto. Eu, sinceramente, achei que foi no padrão que sempre é. Muito aplauso, muito protesto, vaia também faz parte. Ninguém é 100%.
As manifestações que ocorrem em todo o País são uma crítica aos políticos em geral, mas há uma crítica mas efetiva em relação ao PT, que está no poder, e os partidos tradicionais de esquerda?
Não acho não.
Não vai refletir na próxima eleição? O senhor, como estrategista da campanha de reeleição da presidente Dilma, como vê isso?
Não sou estrategista da campanha dela, mas vou ajudar. Acho que tudo que se vê agora é fotografia de um momento inusitado que a gente nunca viveu. Acho que tirar conclusões disso aí (manifestações), seguramente tem uma taxa de risco de erro muito alta. As pessoas estão protestando porque acham que é preciso fazer mais, tem uma contestação à política, mas não vejo ninguém negando a caminhada que o Brasil fez nos últimos 28 anos.
O senhor se refere ao período da redemocratização?
Isso. Reconquistamos a democracia, conquistamos a estabilidade macroeconômica, uma moeda forte. O Brasil é respeitado, fizemos um processo de inclusão social jamais visto. Não sou nem de idolatrar o movimento nem de condenar. Acho que é um movimento que, na minha opinião, não é nem o primeiro nem vai ser o último. Nós fizemos as Diretas Já, que foi maior do que isso. Teve o Fora Collor, que na minha opinião foi semelhante a esse. Acho que a gente vive um momento novo de consolidação da democracia, das redes (sociais), mas acho que tem gente apressada, querendo tirar conclusões definitivas. Não recomendo a ninguém, no calor do evento, ficar querendo escrever sobre o futuro.
A pesquisa da Datafolha mostra queda grande na popularidade da presidente Dilma e o fato de o PT está no governo também não atinge o partido?
O PT está no governo, mas veja: Lula (ex-presidente da República) ganharia de todo mundo no primeiro turno, segundo a pesquisa. Então, isso (associar protestos a eventual desgaste do PT) cai por terra..
Mas Lula é Lula. E o PT...
Não. Lula é PT.
Lula, então, seria o plano B para 2014?
Acho que o candidato de Lula é Dilma. Dei o exemplo de Lula para dizer que se precipitam os que acham que a crítica é generalizada ao PT, porque não existe símbolo maior no PT do que Lula. Na verdade, (as manifestações) são um questionamento da política. Acho que essa energia tem que vir para fortalecer e melhorar a democracia brasileira . E não para destruir a democracia brasileira. Por isso, acho estranho alguns políticos reclamarem de uma eventual convocação do plebiscito pelo Congresso. É a primeira vez que vejo numa democracia o pessoal achar ruim a participação popular através do voto. As pessoas votam nas eleições normais para escolher de vereador a presidente da República. Já votamos no plebiscito para escolher presidencialismo ou parlamentarismo (1993), já votamos no referendo sobre desarmamento (2005) e acho que cada vez mais os plebiscitos são bem-vindos. É o povo dizendo o que acha.
Neste cenário, a discussão sobre a reforma política é prioridade?
Eu creio que a reforma política é mãe de todas as reformas, porque a política precisa ter uma cara melhor para a população. Acho que a reforma é fundamental e espero que o Congresso Nacional atenda a esse clamor da rua. Acho que tem questões como as coligações nas eleições proporcionais que já passaram do tempo de mudar. Cada partido político tem que ter o tamanho que merece, que é dado pelo povo nas ruas. Eu não acho que tenha que ficar criando obstáculo para formação de partidos. Mas o partido vale na medida em que tiver voto das ruas. Se ele não tiver voto, ele não deve ter direito a tempo de televisão e dinheiro público. É o povo que vai legitimar.
O senhor, então, defende a cláusula de barreira?
Para mim, é. Se não tem voto, não tem sentido usufruir de dinheiro público.
Em relação à questão do voto obrigatório, qual a posição do senhor?
Eu sou a favor do voto facultativo. Mas, sendo obrigatório, as pessoas vão nas urnas e na ordem de 27% a 30% votam nulo. Por isso, sou a favor do voto facultativo, apesar de que, como cidadão, eu jamais deixaria de votar . Ninguém pode obrigar ninguém a ser cidadão (participar). Mas a tentativa de negar a política é uma tentativa inútil, porque não existe nada para pôr no lugar. A ditadura? Se essa democracia precisa ser melhorada, quem vai melhorar é o povo, com o voto, com ele na rua, com ele cobrando melhorias. E não tenho dúvida que nós já melhoramos muito. Quem tentar zerar esta caminhada do Brasil está cometendo grande injustiça. O mundo inteiro admira o Brasil e vai continuar admirando o Brasil por conseguir viver nesta contestação.
O presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Nilo (PDT), que é postulante ao governo, disse que ele tem mais chances de ser o candidato da base justamente porque não é do PT.
O problema das pessoas é serem apressadas na conclusão. Primeiro, acho que rapidamente a presidente Dilma vai recuperar a popularidade dela. Segundo, me lembro que eu estava do lado do presidente Lula em 2005 e ele chegou a níveis de aceitação muito mais baixos que a presidente Dilma e ganhou a eleição em 2006. Então, não há um desgaste, uma erosão na imagem dela. O que aconteceu foi um momento que, a partir de um questionamento sobre transporte público, o povo veio para a rua. Para questionar a política. E eu acho ótimo. Acho que a classe política foi chacoalhada e tem que responder. E a melhor resposta da classe política é a reforma política, o fim da coligação proporcional, o financiamento público de campanha. Acho que é ótimo momento para mudar as regras da política e para a gente fazer uma política mais transparente que valorize a representação. Eu não tenho susto nenhum, porque acho que a política é uma soma de política representativa com política direta.
Mas as pessoas estão cobrando porque acham que os políticos fazem pouco.
Eu vou falar por mim. As pessoas querem mais saúde, eu fiz cinco hospitais novos, um deles padrão de referência para o Banco Mundial (Hospital do Subúrbio). As pessoas querem mais educação, nós trouxemos cinco universidades federais para a Bahia, onde só tínhamos uma. E 28 Ifets (Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia). As pessoas estão falando em transporte público e nós aí com a licitação (da segunda etapa do metrô) para ser aberta no dia 22. Finalmente, o governo do estado assumiu o controle do metrô para si. Eu estou lendo (pleitos) na rua e acho que a mãe das reformas é a reforma política. Quem quer tirar conclusão sobre o ano de 2014 seguramente vai errar, porque não vi ninguém crescendo...
Ninguém?
Vi Marina (Silva, idealizadora da Rede Sustentabilidade) crescendo um pouco; Joaquim Barbosa (presidente do Supremo) aparecendo...
Então essa queda abrupta na popularidade da presidente não assusta?
Não assusta porque caiu todo mundo. Caiu o Alckmin (governador de São Paulo, do PSDB), caiu Fernando Haddad (prefeito de São Paulo, do PT), caiu Sérgio Cabral (governador do Rio de Janeiro, do PMDB). Quem foi que subiu, aí? O único que vi se manter foi o presidente Lula. Como ele é do meu lado, eu estou tranquilo.
E a eleição estadual? O PT tem quatro candidatos ao, governo e...
Já não tem.
Não?
Não, é que eu acho que tem gente que proximamente vai anunciar que vai declinar, mas a decisão a gente só vai tomar em novembro deste ano.
Dos quatro (Rui costa, Sérgio Gabrielli, Luiz Caetano e Walter Pinheiro) quem ou quantos vão declinar?
Não sei, aí é um processo. Eu vou conversar com todo mundo, mostrar que é importante o PT ter unidade. Mas eu espero que a gente consiga declinar tantos quantos forem necessários para ter a unidade.
Repetindo uma pergunta que foi feita à presidente Dilma, em relação a uma comparação que veio das ruas, o senhor considera o seu governo Padrão-Fifa?
Essa é uma referência ruim. Não vou me espelhar na Fifa para o meu governo. Até porque a Fifa trabalha para um espetáculo e eu pela população. Mas acho que a gente tem que buscar sempre a excelência e os melhores padrões. Isso a gente tem feito com a máquina pública, o que não é fácil pois ela é grande e viciada. Mas, reitero, o esporte é uma política social, de turismo e emprego. Não me arrependo de ter feito a Fonte Nova. Salvador precisava de uma grande arena. Foi correto o que fiz.FONTE:ATARDE
*Colaborou João Pedro Pitombo