Analista experiente, o jornalista Samuel Celestino conhece como poucos o dia a dia político do estado, ainda mais pelos 47 anos de vivência no jornalismo. Nesse meio tempo, assistiu a muitos movimentos e classificou o que toma agora as ruas como o maior em todos esses anos.
Crítico contumaz de dirigentes – independente da inclinação política –, Samuel avalia que “Wagner trabalhou, se dedicou mais à política do que à gestão”, e aponta alguns pontos positivos, como obras espalhadas pela Bahia na administração do governador.
No caso do prefeito ACM Neto, ele ainda prefere reserva. Considera cedo para traçar um panorama. Em entrevista exclusiva à Tribuna, ele ainda sugere que o voto distrital misto é o melhor modelo político para ser implantado no país.
Tribuna – Como é que você, como um homem da comunicação, está vendo a onda de protestos que está acontecendo em todo o país?
Samuel Celestino – Por incrível que pareça, eu esperava esses acontecimentos que se registram no país. Não se esperava da maneira que aconteceu, mas as coisas como vinham se verificando nos três poderes, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, não havia possibilidade de que alguma coisa nova acontecesse para mudar essa situação que estava tocando na população de maneira geral. A surpresa, a minha surpresa, a surpresa do Brasil inteiro, foi a forma como aconteceu, repentinamente, através da rede social, como se verificou na Primavera Árabe, que tomou conta de todo o Oriente Médio. Aqui o povo brasileiro sempre foi muito pacífico. E, de repente, ninguém acreditava que a rede social fosse capaz de levar a população às ruas, os jovens às ruas. Para fazer o maior movimento que eu, em 47 anos de jornalismo, observei na política brasileira. Mas importante do que a passeata dos 100 mil em 1968. Mais importante do que as Diretas Já. Mais importante do que o movimento cívico dos Caras Pintadas, que apearam Fernando Collor do poder por corrupção. E agora acontece porque se verificou, de repente, o Brasil todo tomado por uma onda de jovens reivindicando diversas coisas e de maneira difusa. Não havia especificamente uma questão básica, já que as tarifas dos ônibus eram apenas o rabo do gato. Ninguém sabia o que ia acontecer depois.
Tribuna – Acredita que essa movimentação das ruas vai garantir uma mudança de comportamento do político? A forma de fazer política tende a ser modificada?
Samuel – Já está acontecendo isso. Verifica-se isso através do Palácio do Planalto, quando a presidente Dilma (Rousseff) demorou de entender o que estava acontecendo e, de repente, começou a tomar medidas completamente difíceis de ser compreendidas. Uma presidente que propõe uma reforma da Constituição, mesmo restrita, não conhece a Constituição Brasileira. Porque a Constituição Brasileira não permite uma constituinte restrita. Ou é constituinte ou não é. E, de repente, ela teve que mudar e sem saber para onde ir. De um lado ficaram os juristas que defendiam o referendo e, de outro, ela e os políticos que defendiam o plebiscito, que é mais difícil que o referendo. Esta mudança já está acontecendo.
Tribuna – Como a tentativa de emplacar a PEC 37, que era uma ameaça?
Samuel – A PEC 37 foi uma iniciativa da Câmara dos Deputados para diminuir o poder do Ministério Público. Diminuindo o poder do Ministério Público nas investigações criminais, fortaleceria a polícia, que não tem a capacidade do Ministério Público, e pegaria o Ministério Público e jogaria para uma posição que não compete ao MP. O Ministério Público brasileiro ganhou corpo a partir da constituição de 1988 e interessante que nesse processo de 1988, quando o Ministério Público cresceu e ajudou na deposição de Fernando Collor de Melo, a imprensa sempre esteve colada com ele. Interessante que a imprensa e o MP sempre estiveram juntos. Porque a imprensa denunciava e o Ministério Público apurava. E agora pela PEC 37, a imprensa denunciando, a polícia ia apurar? Não, porque quem comanda a polícia é o governo, é o Poder Executivo. Então, as dificuldades estavam aí.
Tribuna – Você acredita que o plebiscito para fazer a reforma política seja a melhor alternativa para mudar o sistema político do país?
Samuel – Eu sou favorável, no meu entendimento, ao referendo, que seria melhor. O Congresso votar e apresentar para a população dizer sim ou não. Mas no caso, se não pode haver referendo, que o plebiscito seja válido. Só que o plebiscito vai demorar. O referendo não. Fariam PEC, projetos de emendas constitucionais, mudava aqui e acolá e depois apresentavam essas mudanças para o referendo da população. Já o plebiscito não. O plebiscito vai dar uma relação para a população escolher. Agora tem coisas boas e tem coisas ruins. As coisas boas: como é que a população vai entender o que é voto proporcional, o que é o de hoje, voto distrital e voto distrital misto, que é o modelo de voto alemão? E outras coisas mais que vão acontecer e vão ser apresentadas. Quer dizer, vai ser uma lista muito grande para a população brasileira entender perfeitamente aquilo e votar no plebiscito de maneira correta.FONTE:TRIBUNA DA BAHIA