Com a candidatura anunciada oficialmente quatro meses após a divulgação do nome petista para a concorrência à sucessão ao governo do Estado, o escolhido da “união das oposições”, o ex-governador Paulo Souto (DEM), considera “legítimas” as aspirações do ex-prefeito de Mata de São João, João Gualberto (PSDB), e do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) a encabeçar a chapa majoritária e acredita que o gestor de Salvador, ACM Neto (DEM), foi “um grande árbitro” na condução do processo de escolha. “Dificilmente se poderia desejar algo mais forte, mais robusto para disputar uma eleição: uma chapa que está reunindo os três maiores partidos da oposição”, defendeu, em entrevista ao Bahia Notícias. Souto nega haver um acordo tácito para que, caso seja eleito, não dispute a reeleição a fim de que Neto seja lançado ao cargo em 2018, embora admita a possibilidade de abrir caminho para o correligionário, a depender da avaliação futura do governo democrata. “Será um candidato fortíssimo e será um candidato do nosso partido. Todo o esforço que nós podemos fazer para a Bahia ter as suas aspirações atendidas, faremos. Se essa for a inspiração da Bahia, será extremamente confortável para todos nós”, avalia. O ex-governador elenca os índices negativos da violência no estado e os problemas na assistência à saúde como os problemas principais da gestão Jaques Wagner e que devem ser debatidos durante a campanha.
Bahia Notícias: O senhor chegou a hesitar ser candidato, falou na Lavagem do Bonfim do ano passado – é claro que tem bastante tempo – que não era seu desejo. Geddel Vieira Lima reclama que, de última hora, o senhor bateu o martelo dizendo que queria ser candidato. O que aconteceu para mudar de opinião?
Paulo Souto: Minha posição inicial era de precaução, porque eu achava que, pelas posições que eu já tinha ocupado, era natural que eu deixasse aberto para que novas aspirações pudessem ser colocadas. Daí a minha posição. O que é que eventualmente fez que eu refluísse disso? Além, naturalmente, de toda conjuntura partidária que apontava muito nessa direção, eu dizia o seguinte, que tinha uma coisa que era importante para que eu tomasse uma posição: é se eu sentisse, depois de ser governador duas vezes, que havia certo movimento de opinião pública favorável à minha candidatura. Esse foi o ponto fundamental. Na hora que eu fiquei convencido disso, eu fiquei na condição de não poder me furtar, não apenas com relação ao partido, mas com relação a uma tendência que havia na Bahia, que era referida, por exemplo, em pesquisas de opinião, de que eu poderia ser um bom candidato para reunir a oposição. Eu acho que são perfeitamente naturais as aspirações, por exemplo, inicialmente até de João Gualberto [ex-prefeito de Mata de São João], do PSDB, do ex-ministro Geddel Vieira Lima, que demorou um pouco mais. Isso é uma coisa perfeitamente natural. Nós tínhamos que encarar isso com a maior naturalidade possível, mas o que importa é que a união foi feita. Eu acho que a união foi feita principalmente porque todos nós percebemos que era isso que uma parte expressiva do eleitorado na Bahia queria. Nós não tínhamos o direito de frustrar isso. Isso foi fundamental para que essa união fosse alcançada. É natural que, em um processo desse, possa, aqui ou ali, ocorrer algum tipo de percalço, mas o importante é que terminou, eu acho, muito bem. Acho que estão todos muito envolvidos desde o primeiro momento para a responsabilidade que nós temos.
BN: O PSDB chegou a falar que tinha preferência pelo nome de Paulo Souto. Alguns tinham até coragem de admitir isso publicamente, não todos. No final das contas, quando Aécio Neves veio a Salvador no Carnaval, eu puxei esse assunto com ele, porque eu tinha escutado do PSDB de que havia uma preocupação sobre um possivel palanque de Geddel Vieira Lima para Aécio. Isso foi determinante devido a uma maior facilidade de um palanque Aécio/Paulo Souto do que Aécio/Geddel?
PS: Não. Eu acho que, de qualquer sorte, no nosso ponto de vista, nós iríamos tomar esse caminho na candidatura presidencial. Não creio que isso não tenha sido nada determinante. Agora, tudo isso era cogitado, era avaliado. Dificilmente se poderia desejar algo mais forte, mais robusto para disputar uma eleição: uma chapa que está reunindo os três maiores partidos da oposição.
BN: Em nome disso, o PMDB lançou mão da candidatura de Geddel para o governo. Agora chegou a ser cogitada a nomeação do ex-deputado federal Leur Lomanto para a Semut. Ficou a impressão de que há certa dívida do grupo com o PMDB. O senhor acha que existe realmente isso?
PS: Acho que não. Eu tenho convicção de que essa posição partiu do prefeito ACM Neto, que foi um grande árbitro. Ele sempre disse que não era desejo dele e que não poderia fazer isso. É natural que, em um momento como esse, algumas aspirações eventualmente pudessem não ser realizadas. Ele fez com toda tranquilidade. Eu acho que a palavra conciliação foi dominante nessa estratégia final que terminou com êxito. Eu só quero dizer que todas as aspirações desse processo foram muito legítimas. Eram muito legítimas as aspirações do ex-ministro Geddel Vieira Lima, mas quero ressaltar, de forma muito clara, o fator determinante nesse desfecho. Ele foi uma figura importante para isso. Ele tinha uma aspiração e, nesse momento, foi possível que a luta pela união fizesse com que se incorporasse a esse projeto, da mesma forma que o PSDB tinha um candidato. Eu acho que a sensação que eu tinha é que uma parte grande da população da Bahia, que desejava isso, não nos perdoaria se nós não conseguíssemos isso. Iríamos ficar tachados de personalistas e individualistas, como se estivéssemos lutando por interesses individuais. Como, nesse momento, estou sendo candidato a governador, tenho que fazer uma referência especial a ele, que entendeu isso e já está incorporado para a gente começar uma luta que eu tenho certeza que é a que a Bahia está esperando.
BN: Mas o PMDB acabou ficando com dois postos. Porque Joaci Góes, que é do PSDB, foi indicado por Geddel. O senhor não acha que o PMDB ficou poderoso demais nessa chapa?
PS: Eu não quero encarar o problema de poderoso dentro da chapa. O que eu acho que é importante é nós olharmos se essa foi uma chapa que atendeu às expectativas de uma grande parte da população. Isso foi feito, naturalmente, com toda a aquiescência do PSDB que foi um partido que, desde primeira hora, aderiu, não a mim, mas ao conceito de que a oposição deveria ficar unida. Naturalmente que manifestações de preferências são normais.
BN: O senhor acha que seu vice, Joaci Góes, vai agregar bastante à campanha? De que forma?
PS: É verdade que é um político que, de algum tempo para cá, estava afastado, mas já foi um político forte, foi um homem que teve participação importante na Constituinte. É um empresário, um escritor, um estudioso de muitos assuntos e acho que agrega no sentido de atender às expectativas desses partidos que, afinal de conta, compuseram a chapa.
BN: Mas de voto ele ainda vai ficar devendo...
PS: Não acho que esse seja o problema fundamental na escolha de um candidato a vice. Acho que a capacidade de agregar é muito mais importante propriamente do que a capacidade de, diretamente, influir em uma determinada votação.
BN: O candidato do governador Jaques Wagner, Rui Costa, é apresentado como uma opção nova. Como o senhor pretende disputar? Quais são as principais diferenças entre o senhor e o candidato do PT?
PS: Eu acho que o problema de opção nova é uma coisa que em que se caracterizar mais pelo que cada um vai defender. O fato de surgir uma pessoa que, pela primeira vez, vai disputar um cargo, isso necessariamente não significa que ele possa representar o que nós habitualmente podemos chamar de novo. Acho que a capacidade de renovação é mais importante do que qualquer coisa e eu não creio que isso seja colocado dessa forma. Eu, por exemplo, em cada um dos governos que eu participei, tive oportunidade de colocar em prática programas e projetos que foram realmente inovações importantes na estrutura administrativa da Bahia. Então, isso para mim, é mais importante do que qualquer coisa. Eu continuo muito antenado a todas às movimentações que ocorrem no Brasil, para que a população possa perceber claramente que nós vamos, durante a campanha, discutir programas, projetos que sejam importantes para o estado.
BN: O senhor é candidato desde 1994. Veio de uma vitória ao governo, uma vitória ao Senado, outra vitória ao governo e as duas últimas derrotas ao governo. O senhor não crê que há um desgaste? Como reverter essa possível resistência do eleitorado?
PS: Não tem nenhuma evidência de que exista isso. Mesmo porque é preciso lembrar que, mesmo com relação à eleição de 2006, eu saí bem avaliado do governo. O problema ali não foi de natureza política e nem de avaliação do governo. Foi uma circunstância política e nacional, que teve uma influência muito grande aqui na eleição. Pelo menos todas as sondagens de opinião, as investigações mais qualitativas que nós fizemos, apontam na direção contrária. Se eu pudesse antecipar, diria que eu posso perceber uma opção por uma solução de confiança. Há certa frustração da população com as coisas que estão aí. Uma opção que diga: 'Nós sabemos exatamente o que os podemos esperar'. Sabendo quais são minhas qualidades e, eventualmente, quais meus defeitos, mas é, basicamente, diante das circunstâncias que nós estamos vendo no estado, uma solução que nós vimos que inspira confiança para a população.
BN: Rui Costa comparou, em entrevista ao BN, os oito anos do governo Paulo Souto com os oito anos do governo Jaques Wagner e disse que isso vai ser um mote de campanha. Segundo ele, em todos os indicadores o governo Wagner supera o seu. Alguns em até mais de 50%. É verdade isso?
PS: Não sei. Primeira coisa é o seguinte: eu coloco em dúvida a credibilidade dos números do governo. Vou dar um exemplo interessante. Um programa ótimo que espero que vá continuar. Você está assistindo, ao mesmo tempo, propaganda de mais de 100 mil casas, do governo federal e do governo do Estado. Então ficamos sem saber efetivamente...
BN: ...Quem é o pai da criança?
PS - Não. Eu sei quem é o pai da criança. Todos nós sabemos disso. É um programa do governo federal, com participação da Caixa Econômica Federal. Não sei exatamente que representação tem isso dentro do governo do Estado. Eu estou dizendo que é muito difícil essa comparação que vai ser feita porque eu não consigo credibilizar muitos dos dados que são oferecidos pelo governo do Estado. Mas eu não vou ter nenhum receio de focalizar isso. Minha prioridade não é essa. Mais adiante, minha prioridade é falar o que é que eu estou pensando para o futuro da Bahia. Eu acho que é isso que o eleitorado quer, mas não tenho nenhum receio de comparar. É preciso dizer que os números do Estado precisam muito ser auditados, porque eles são impressionantes. Eu, por exemplo, vou tomar os números que eles mesmos colocam e analisar isso. Às vezes, nós não temos informações suficientes para analisá-los. Nenhum problema quanto a isso, mas meu foco não vai ser esse. Meu foco vai ser pensar no futuro, que eu acho que é o que a Bahia deseja.
BN: Falando da perspectiva federal, já que o senhor mencionou programas divulgados pelo Estado que são do governo federal, há uma expectativa muito grande de reeleição da presidente Dilma Rousseff. As pesquisas apontam que ela é favorita. Se houver eleição de Dilma, como o senhor pretende governar?
PS: Um governador eleito para uma presidente eleita. Embora eu considere que não seja tão líquida e certa a reeleição. Acho que, se vocês forem analisar qualquer governante que tenha menos de 40% de bom e ótimo, começa a colocar um pouco de interrogação em o quê que pode significar a reeleição. Mas eu governei com Lula presidente e o que eu posso dizer é que eu não percebi nada dirigido, a não ser em um caso isolado que eu prefiro não citar. Acho que apenas houve coisas que não foram feitas no plano federal e até hoje não aconteceram. Por exemplo, a duplicação da BR-101, uma coisa que acontece em todos os estados do Nordeste. Se você pegar os jornais da época, eu falei isso insistentemente e até hoje não aconteceu na Bahia. Eu vou achar que isso não foi no meu governo? Se isso não aconteceu também durante oito anos do governo do PT? Deve ter havido dificuldades. Além disso, os programas federais hoje são institucionalizados. Eu não posso acreditar que ninguém vai deixar de fazer qualquer programa desse que aconteça em todos os estados. O maior exemplo disso é o convívio que o prefeito ACM Neto tem tanto com o governo do Estado quanto com a presidente da República. Acho que dessa armadilha a população da Bahia já saiu.
BN: Mas, de qualquer forma, Geddel Vieira Lima dentro do grupo, o PMDB na chapa, não facilita, caso aconteça isso? Porque o PMDB tem o vice-presidente da República, Michel Temer. Isso foi uma aposta?
PS: Não. Independeu completamente disso. As decisões aqui foram tomadas olhando o ambiente local. Se isso vier a ser um instrumento a mais, ótimo. Mas ninguém fez isso pensando nessa hipótese. Até porque eu acredito muito na cordialidade das relações institucionais entre os governadores e a Presidência da República.
BN: O PT já disse que o mote vai ser comparar os anos de Paulo Souto com os de Jaques Wagner. E Paulo Souto, pretende trazer o quê para a campanha? Qual vai ser o ponto frágil do PT a ser explorado?
PS: Como eu disse, depois do período de pré-campanha, além das preparações de natureza interna, mobilizando um grupo e ouvindo na campanha, eu estou preocupado em apontar programas para o futuro. Mas também eu não posso deixar de reconhecer que há certas áreas do governo que a atuação delas é indefensável. Você não pode imaginar, em quatro anos, quatro mil homicídios na Bahia. Salvador é considerada a 13ª cidade mais violenta do mundo, segundo a ONU. Então eu realmente não queria começar tratando desses assuntos, mas paciência. Já que as provocações estão vindo... É impossível conviver também com a de assistência na saúde que nós estamos vivendo. O assunto é difícil e complexo, mas estou colocando isso porque nenhum governo vai ter condição de atender plenamente a setores que são complexos na Bahia. Mas o problema é a propaganda, a publicidade dirigida e tendenciosa para passar para a população uma situação que efetivamente não existe. Então nós vamos mostrar isso. Não é a nossa prioridade, que é tentar focar mais algumas coisas para frente. Acho que ainda não é o momento de isso estar bem detalhado. Mas nada me amedronta com relação ao embate que vier a se instalar nesse sentido.
BN: O calcanhar de Aquiles do governo PT é a questão da segurança pública?
PS: Esses resultados são muito ruins para a Bahia. É muito difícil. É uma queixa generalizada da população, mas também acontece em uma outra área muito sensível que é a área de assistência à saúde, como eu falei. São dois pontos muito vulneráveis do governo. Eu quero dizer, com toda tranquilidade, que eu tenho consciência de que não são coisas que se resolvem com facilidade, mas o governo atual teve a oportunidade que ninguém teve na história recente da política na Bahia, que é o mesmo governador durante oito anos. Com tudo que eles falam, do tempo nosso, mas o mesmo governador, durante oito anos, não existe outro exemplo. Então foi uma oportunidade ímpar para evitar nesses setores, mas infelizmente isso não aconteceu.
BN: Sobre a crítica que o senhor faz à segurança pública, em todo o país a gente acompanha índices alarmantes de violência. O episódio da desocupação de uma favela no Rio de Janeiro, nesta sexta-feira, é um exemplo. O senhor realmente acha que é uma coisa local? A gente pode atribuir a uma falha do governo local?
PS: É evidente que eu não estou aqui para martirizar. Mas é evidente que houve uma mudança muito clara de patamar de 2007 para cá. Durante muito tempo, a tendência da Bahia foi contrária. O problema é que hoje, com todos esses problemas do Rio, as taxas de homicídio são menores do que na Bahia. Em São Paulo, são bem menores. Outros estados que também eram estados têm uma tendência de decrescer. Nós tivemos, nesse período, um aumento desusado dos índices de violência no estado. Então ainda que se diga que é um problema nacional, nós precisamos saber como se comportavam alguns estados que são comparáveis a nós. Alguns desses estão decrescendo continuamente. O que aconteceu na Bahia eu atribuo muito aos primeiros anos de governo, onde se desestruturou muito a segurança pública e isso repercutiu muito fortemente.
BN: Para o senhor, a violência se combate com maior força policial?
PS - É evidente que a causa estrutural não é essa, mas também não podemos chegar a outro extremo de subvalorizar o trabalho do sistema de segurança pública, que precisa ser efetivo. O que vocês estão falando do Rio, onde podem ocorrer os problemas que forem, mas era fundamental que o Estado recuperasse o domínio de certas áreas que estão ou que estavam sob “o governo do crime organizado”. Isso não é possível e tem que haver reação, mas não podemos entrar na armadilha da discussão de que a violência é uma questão apenas de origem social ou que se origina nas dificuldades do aparelho do sistema. Existem as duas coisas, mas nós temos um problema imediato que tem que ser resolvido com a polícia eficiente.
BN: É claro que o senhor ainda vai montar o plano de governo, que deve sair em julho como o do PT ou antes?
PS: Eu acho que por aí ou logo depois das convenções.
BN: Mas o senhor já deve ter ideia de quais vão ser as principais propostas que pretende discutir com a população?
PS: Eu tenho que tomar como referência um grande movimento de opinião que existiu no Brasil, que foram as manifestações do ano passado. Elas podem ter tido uma origem diversa, mas uma coisa ficou muito clara: a insatisfação da população com a qualidade dos serviços públicos: isso ficou extremamente claro. Embora possa parecer uma coisa óbvia, mas o foco muito forte é no sentido de melhorar e de qualificar mais os serviços públicos oferecidos à população. Eu estou falando em segurança, em saúde, em assistência social e educação. Porque essas coisas que parecem que eventualmente se constituem como uma rotina do governo não podem ser encaradas dessa forma. Tem que se constituir em uma preocupação fundamental. É claro que nós temos que continuar planejando, buscando recursos para os projetos mais estruturantes; mas não é possível falar de projetos de bilhões se hospitais não atendem às pessoas porque não têm médicos, as escolas não funcionam porque os terceirizados estão sem receber. A educação fica quase um ano em greve. Nós temos que tentar evitar isso. Então o foco é na melhoria dos serviços públicos, que é uma coisa que afeta diretamente o dia-a-dia da população. Eu confesso o perigo que existe em falar nisso. Porque as pessoas têm a ideia de que os problemas são indissolúveis, mas temos que procurar avançar. Ainda falando muito generalizadamente, outro ponto é que não se pode ter uma Bahia desenvolvida, se nós temos uma parte enorme do nosso território com problemas seríssimos. Eu quero falar do semiárido. Um programa estruturado para o semiárido, que nós começamos e avançamos muito no governo anterior, através de alguns programas setoriais, visando, por exemplo, buscar meios de aumentar a renda da população, aproveitando as possibilidades que o semiárido oferece em cada região. Acho que essa foi uma experiência boa que estava avançando e que infelizmente foi deixada de lado.
BN: Em Salvador, a gente tem observado um empenho fiscal do governo democrata de ACM Neto. Houve reajuste de IPTU e também um projeto de incentivo, o Nota Salvador. O senhor pretende também aumentar a arrecadação do governo para executar todas essas mudanças?
PS: Eu acho que o primeiro momento vai ser de aumentar a eficiência, mas não me ocorre, no primeiro momento, uma reforma tributária. Acho que na prefeitura, evidente que havia um espaço claro para isso, que foi o fato de há muitos anos não ter havido a reavaliação dos impostos. No Estado, à primeira vista, não vejo esse tipo de problema. O que eu vejo é a necessidade de aumentar a eficiência e atuar no lado da despesa. Eu considero que há sim uma margem de racionalidade, através de gastos mais qualificados. Acho que isso é possível fazer sim.
BN: O senhor falou de gastos de bilhões para fazer projetos e eu vou dar o exemplo da ponte Salvador-Itaparica. O senhor acha que é um projeto viável ou que o dinheiro que é aplicado nesta passagem poderia ser aplicado em outras áreas?
PS: Esse projeto, quando surgiu, foi com a perspectiva de que fosse financiado pelo setor privado. Hoje eu não vejo mais isso. A expectativa de financiamento é do setor público, de recursos do governo estadual e federal. Cabe a pergunta e, nesse momento, não estou qualificado para dizer se realmente é uma prioridade em relação a outros temas que são importantes para a população, como a extensão do transporte de massa, os programas de melhoria de infraestrutura das áreas consideradas de sub-habitação. É uma questão de ver se são recursos públicos que vão entrar nisso e ver quais são as prioridades. Eu quero dizer também, não me referindo especificamente a essa questão, que eu não vou ter absolutamente nenhum problema de discutir bons programas. Eu não vou adotar essa cartilha que o PT adotou quando entrou no governo. Às vezes só fazia mudar de nome. Se for assim, menos mal. Eu não vou ter essa obsessão. Se houver coisas boas, eu não vou ter problema nenhum em continuar programas que sejam efetivamente bons. Mas essas coisas vão ser avaliadas no momento certo. Eu não vou ter essa preocupação.
BN: Eu quero que o senhor destaque uma coisa muito positiva no governo de Wagner, uma coisa muito negativa e contrapusesse com outra coisa positiva e outra negativa do seu governo.
PS: Isso é muito complicado. Eu acho que realmente muito negativa no atual governo é a questão da segurança pública. Muito positiva do ponto de vista do governo de Estado, que seja efetivamente dele, eu poderia dizer, por exemplo, um programa de grandes eixos estaduais, nos primeiros anos de governo, foi uma coisa positiva. Mas me sinto até um pouco responsável por isso. Porque eu deixei um financiamento de US$ 180 milhões, aprovado em dezembro de 2006, que foi bem aproveitado pelo governo. Eu acho que isso foi uma coisa positiva. Agora é bem diferente da publicidade que está aí, dos quilômetros de estradas que são equivalentes a ir daqui para os EUA e Europa. Como é uma coisa que eventualmente pode acontecer, você tem ainda um grande número de estradas em uma situação muito ruim. E eu até tenho mostrado isso no “face” [Facebook] e os que acompanham na página estão colaborando muito. Porque cada vez que eu mostro uma eles mandam umas cinco. Isso até tem sido uma experiência interessante.
BN: E os pontos positivo e negativo da sua última gestão?
PS: Isso era polêmico, mas nós implantamos, por exemplo, na área de saúde, um novo sistema de operação de hospitais públicos através de organizações sociais, o que na época foi bastante criticado pela bancada da oposição, fizeram todo tipo de obstáculo. Mas eu quero até cumprimentá-los, porque, apesar disso tudo, eles mantiveram isso, ampliaram, foram ousados e, em alguns lugares, foram feitos convênios até com empresas privadas. Tem unidades de saúde administradas diretamente pelo Estado que são muito boas e nós não temos nenhuma solução única para isso. É muito preconceito dizer que, por exemplo, o bom é organização social ou empresas ou diretamente pelo Estado. Eu acho que todas essas soluções têm que ser colocadas, porque tem exemplos bons em todos esses casos. Eu dou muita importância a uma coisa que seja de transformação. Recuando um pouco, na área de segurança pública, tem a criação das chamadas companhias especiais, aquela da Caatinga, da região cacaueira, do extremo sul. Foi uma coisa que deu mais tranquilidade nessas áreas. A Bahia se desenvolveu muito em áreas rurais. Isso foi uma coisa muito importante, um marco. Pode parecer um pouco prosaico, mas a criação do Grupamento Aéreo da Polícia Militar, que não havia ainda. Nós tínhamos um grande número de municípios que não tinham escolas estaduais de nível médio e nós avançamos muito em relação a isso. Deixamos todos os municípios com escolas estaduais. Eu estou dando muita ênfase, aqui, ao problemas de qualificação dos serviços públicos. Aliás, essa coisa de saúde é interessante. Eu vou falar aqui para ver se vacino isso. Pessoas vêm me dizer, de vez em quando, que o governo Paulo Souto não construiu um hospital na Bahia. De vez em quando, tenho que interagir um pouco na internet, porque reproduzem isso com uma facilidade. Até na última que fiz, disse para dar um pulinho em Barreiras e perguntar quem fez o Hospital do Oeste. Salta para Alagoinhas, para ver quem fez o Hospital Dantas Bião. Vai para Ribeira do Pombal, veja quem o Santa Tereza. Em Salvador, veja uma das maiores maternidades públicas do Brasil. Vocês estão vendo os problemas que estão tendo hoje com maternidades. Eu fico imaginando como seria a situação do estado agora sem a maternidade Professor José Maria de Magalhães Netto, no Pau Miúdo. É uma coisa que nos envaidece muito ter feito, ter implantado o Instituto do Coração, que também ampliaram e mudaram o nome. Mas tiram o nome para dizer que é outra coisa. Então, essas coisas que considero que sejam importantes. E essa preocupação muito grande com o semiárido. O programa de construção de barragens foi fundamental para enfrentar a seca. É difícil falar uma coisa só. Sobre o problema de industrialização do interior, eu vejo tanta crítica. O que nós conseguimos, nos dois governos, de interiorizar a indústria, com todas as dificuldades que isso tem. O caso do polo calçadista, que conseguimos levar para várias regiões do estado, o qual tem sofrido problemas agora. Eu não posso oportunistamente atribuir ao governo. Acho que tem uma conjuntura de coisas que são desfavoráveis e que podem levar a isso. Mais foi uma coisa importante.
BN: O senhor não destacou nada negativo. Não teve nada negativo no seu governo?
PS: Não, certamente tem. Deixe-me tentar lembrar alguma coisa que eu considere negativa... Realmente não consigo me lembrar. Em certas coisas, a gente não alcança o objetivo que quer, mas não é uma coisa negativa.
BN: Então diga uma coisa que o senhor queria realizar e não fez.
PS: Seguramente, em muitos setores, você sempre precisa realizar mais. Eu confesso que eu peguei um período, os dois últimos anos do governo, que foram muito difíceis para manter o equilíbrio do Estado, para fazer uma transição que fosse importante. Eu fiz um esforço enorme disso e isso deixa algumas sequelas no final do governo.
BN: O senhor falou de industrialização e isso sempre foi um mote da oposição. Sempre é batido na tecla da perda de investimentos da Bahia para Pernambuco, governado por Eduardo Campos, na comparação direta. Só que a gente tem uma candidata do PSB, Lídice da Mata. ACM Neto repetiu o jargão nos debates contra Nelson Pelegrino: “por que não fez?”. O senhor não teme que o senhor e Rui Costa sejam vítimas desse discurso de Lídice da Mata quando em debates?
PS: Nós temos que diferenciar o que são truques eleitorais do que é a verdade. É possível que eles façam isso, mas que ninguém pode escapar da resposta: 'Será que alguém é capaz de fazer tudo em um período?'. Então dificilmente pode chegar a essa condição. É diferente do que alguém dizer que o senhor poderia ter feito e teve condições de fazer. 'Prometeu e não fez'. Essa é outra coisa que eu tenho cuidado. É outra série lá do Facebook, 'Promessas da Bahia'. Eu bato um pouco nisso porque as coisas atualmente acontecem assim. Quando se pensa em um projeto, antes de ter concepção, licitação e iniciar a construção, já há uma publicidade intensa, como se tudo isso estivesse concluído. Eu acho que há algumas pessoas que não estão avisadas e pensam que muitas dessas coisas estão concluídas. O interessante é que eu observo uma relação muito nítida entre esses projetos que têm uma dificuldade de sequência com o fato de terem sido lançados nas vésperas das eleições. Se algum estudioso fizer essa relação vai ficar impressionado. A grande quantidade de projetos que tem frustrada sua execução é aquela lançada nas vésperas das eleições municipais ou estaduais e geralmente tem problemas mais na frente. Às vezes, sou criticado na política porque dizem que eu sou econômico nas promessas. Uma coisa é a população ter confiança e ter esperança fundada, efetiva, de que uma boa administração pode atender a uma parte das suas aspirações. A outra coisa é a promessa. Isso realmente nunca foi meu estilo e o que eu gostaria é de que a população confiasse nas coisas que eu digo e pretendo fazer.
BN: Mas isso não é uma ameaça na campanha?
PS - Eu não quero ficar qualificando adversários. Eu acho que é uma campanha realmente dura, difícil. E vamos esperar a sequência. Quem pode responder melhor do eu essa questão da campanha é o candidato do governo, porque eles atuam mais ou menos em um campo parecido.
BN: É esperado que, em 2018, ACM Neto se lance a governador. Como o senhor encara isso? Como é a expectativa de fazer um mandato de apenas quatro anos, sem possibilidade de reeleição? Tem acordo para o senhor não disputar a reeleição em 2018 com ACM Neto?
PS: Absolutamente não teve acordo. Eu acho uma insensatez de qualquer político fazer esse tipo de projeção. Isso é uma coisa de futurologia. Agora o prefeito está tendo uma administração brilhante e a população tem todo o direito de pensar nisso. Imaginar que ele ou eu possamos estar fazendo esse tipo de futurologia agora é uma coisa que não tem nenhum sentido.
BN: Mas se ele estiver tão bem avaliado em 2018, seria um bom candidato?
PS: Será um candidato fortíssimo e será um candidato do nosso partido. Todo o esforço que nós podemos fazer para a Bahia ter as suas aspirações atendidas, faremos. Se essa for a inspiração da Bahia, será extremamente confortável para todos nós.
BN: Então, o senhor abriria?
PS: Se eu disser que sim, você vai dizer que teve acordo. Se eu disser que não, você vai dizer que eu já estou pensando em ser reeleito. Então eu digo que não se conversou sobre isso. Agora eu tenho a sensação de que, continuando tão bem quanto ele está, essa não vai ser uma aspiração minha, mas sim da população do estado.
BN: O seu projeto então é para quatro anos?
PS: O meu projeto é fazer a pré-campanha, a campanha, disputar as eleições e fazer um bom governo. Meu projeto é esse.Fonte:Bahia Noticias