Na linha de frente da Secretaria de Segurança Pública desde o início do governo petista na Bahia – foram quatro anos na chefia da Inteligência e titular da pasta nos outros quatros anos – Maurício Barbosa permanece em seu cargo na gestão do governador Rui Costa com desafios constantes, gerados, pela “dinâmica da criminalidade”. Um deles, afirma o secretário, policial federal com mais de 15 anos de carreira, é a luta entre reduzir a sensação de insegurança da população. “É uma luta que eu digo que é cotidiana, porque você competir com notícias negativas todos os dias, que são notícias que ganham as manchetes dos jornais todos os dias, até pelo impacto que isso causa. Hoje, diferentemente do que nós tínhamos dez anos atrás, um fato criminoso é repetido dez vezes”, aponta. Em meio à polêmica da vez, tema recorrente na imprensa baiana na última semana – a ação realizada na última sexta-feira (6) pela Rondesp Central no bairro do Cabula, um dia após a entrevista, que resultou na morte de 12 pessoas em confronto com a polícia – Barbosa trata dos investimentos em inteligência, no combate ao crime organizado, à modalidades como explosões de caixas eletrõnicos e na redução da violência policial. “Então se tem 1% que comete seus desvios de caráter, desvios de conduta, vamos atrás desse 1% e fazer questão de demiti-los de forma rápida para que nós, os policiais de bem, não sejamos tachados de criminosos, de arbitrários, por conta desse 1%”, argumenta. O secretário também reforçou que o caso Geovane e o caso Davi Fiúza, que recentemente foram temas de discussão centrais no noticiário estadual, não estão parados. “Nós já falamos isso com a família de Davi, nós estamos falando para todas as pessoas que nós podemos, até para a Anistia Internacional, nós estamos trabalhando com todas as ferramentas possíveis”, garante.
O senhor já tem algum tempo na função, agora é um novo mandato, o que mudou no perfil da segurança pública, no combate e no que é enfrentado pela secretaria? Mudaram os criminosos? Os crimes evoluíram?
É uma pergunta um pouco complexa de se responder, porque o crime é dinâmico. Ele não para – eu nunca vi alguma experiência onde se tivesse conseguido reduzir a criminalidade a um ponto de todos que trabalham em segurança ficarem confortáveis, muito pelo contrário. Acho que ano a ano há um acúmulo de coisas não resolvidas, isso de forma geral, acho que em nível nacional; e faz com que a segurança pública nacional tenha enfrentado mais desafios a cada ano. É só assistir os jornais para vermos hoje o cenário da segurança pública no Brasil. Vejo estados como Santa Catarina, que até então era um dos estados mais tranquilos no Brasil. Vejo São Paulo, Rio de Janeiro, os problemas que têm enfrentado no combate, no enfrentamento do crime organizado. E na Bahia não é diferente. O que nós vemos de diferente, posso dizer, nos últimos quatro anos para cá, é a sequência de um planejamento que nós iniciamos logo no início da minha gestão, com a criação do Pacto pela Vida, nós decidimos e achamos que a única forma de minorar os efeitos da criminalidade era se todos atuassem de forma conjunta. E aí eu incluo o Ministério Público, o Poder Judiciário, o sistema prisional, as secretarias do Estado que tem relevância com algumas temáticas que evolvem a criminalidade, e também os municípios. Se todos os sentassem no mesmo ambiente e tivessem noção dos problemas que cada um enfrentava, para poder resolver o que há de mais importante, que é a vida, todos teriam condição de ajudar a desatar esses nós. E foi isso que nós fizemos há 3 anos e meio, começamos um novo método de gestão na área de segurança, de análise dos dados, começamos a aprimorar nossos dados de segurança para termos um bom diagnóstico. Em cima desse diagnóstico, nós georreferenciamos e dividimos o estado em Áreas Integradas de Segurança Pública [Aisps] e começamos a fazer o monitoramento dos índices criminais. E nessas reuniões do Pacto, nós definimos uma série de ações e projetos que eram necessários para minorar esses efeitos. Então do Pacto pela Vida, nós temos várias ações concretas, que foram realizadas, como a criação das Bases Comunitárias de Segurança , a criação do Departamento de Homicídios. Dentro do sistema prisional, até a divisão da área prisional, que agora é conduzida evidentemente pelo secretário Nestor Duarte, saiu da Secretaria de Justiça, ganha status de secretaria, e a partir desse status, nós estamos a bem pouco tempo de inaugurar sete unidades prisionais para tirar todos os presos das delegacias. Foram uma série de ações que foram decorrentes da criação do Pacto. Nós estamos, como é um governo de continuidade, dando sequência a esses projetos que se iniciaram 3 anos e meio atrás. E aí nós temos uma gama de projetos na área de tecnologia e inteligência, que nós já vínhamos aprimorando, mas que agora em 2015 nós vamos chegar a entregar à população um projeto de construção de um Centro de Tecnologia de Operações, com investimento na ordem de R$ 250 milhões, que inclui toda a remodelação do sistema de rádio da SSP, com todo o sistema de TI [Tecnologia da Informação] da SSP. Ou seja, aquela infraestrutura que não aparece e que vai muito além das viaturas e das armas.
Também haverá mudança na questão da transparência da SSP?
Também. Nós melhoramos muito a coleta de dados. Se nós olhássemos há 10, 15 anos atrás, pegar as pessoas que trabalhavam no setor de análise e estatística da polícia, isso era feito através de planilha do Excel. Era uma forma muito arcaica de se transmitir os dados do interior, lá dos confins do nosso estado até aqui. Isso saía com atraso de sete a oito meses, e olhe lá, quando se cobrava. Até porque, naquela época, não se tinha a tônica de cobrar, quanto menos aparecesse era melhor. E com o Pacto pela Vida nós decidimos pela transparência. Tanto que é que nós fazemos reuniões quinzenais e reunião mensal na presença do governador, que é coberto pela imprensa, justamente para fazer essa divulgação desses dados e ter um verdadeiro diagnóstico, para que também nós possamos chamar as autoridades que são responsáveis pelas áreas para explicar o porquê do aumento e até o porquê da diminuição.
O senhor citou o investimento em segurança, a questão do Pacto pela Vida, mas existe uma sensação de insegurança muito grande por parte da população em geral. Qual as medidas que a SSP tem tomado para minimizar os efeitos dessa sensação de insegurança?
Eu costumo até dizer, na minha primeira reunião com a equipe – o comandante geral novo, o delegado-chefe novo – nós decidimos também que não adianta só os investimentos e as ações, sem que efetivamente nós tenhamos uma política de redução da sensação de insegurança. Porque tem ocasiões na qual temos a diminuição de índices criminais, a exemplo de 2014 para 2013, nós reduzimos 30% de roubos a coletivos. Isso foi muito pouco citado. Nós tivemos uma redução de 5% de roubos de veículos, isso foi muito pouco citado. Nós tivemos uma redução de 9% de homicídios, isso foi muito pouco citado. Ou seja, é uma luta que eu digo que é cotidiana, porque você competir com notícias negativas todos os dias, que são notícias que ganham as manchetes dos jornais todos os dias, até pelo impacto que isso causa. Hoje, diferentemente do que nós tínhamos dez anos atrás, um fato criminoso é repetido dez vezes. Hoje você acorda cinco horas da manhã, você tem o noticiário que passa o fato; 7h, você tem o noticiário que passa o mesmo fato. Você vê de 9h as 10h, às 11h, às 12h, até as 21h, sendo bombardeado com informações e notícias a respeito de segurança pública. Isso eu não falo só em âmbito nacional, mas internacional. Às vezes nós acordamos e pensamos: onde nós estamos? A gente está chegando ao fim do mundo, porque não é possível que tanta coisa aconteça ao mesmo tempo. E as notícias positivas são muito pouco exploradas. Então nós temos hoje, por meta, uma redefinição da comunicação da Secretaria de Segurança Pública. Nós fizemos muito e muita coisa não foi mostrada. Entre em nosso site e veja; nós temos uma revista que mostra todas as ações da SSP. Nós temos mais de 25 toneladas de drogas apreendidas. Nós tivemos 600 criminosos, só em ações de inteligência, presos. Nós tivemos 400 armas de grosso calibre que foram retiradas das ruas, de grosso calibre: aí inclui metralhadoras, fuzis, metralhadoras antiaéreas e explosivos. Foi mostrado isso, foi batido isso, foi dito o esforço que a secretaria tem feito ao longo dos últimos anos? Não. Isso é muito pouco explorado. Então as pessoas tem como aspecto de achar que aquele crime que aconteceu com seu vizinho ou com alguém de sua família vai acontecer consigo, e é um efeito natural. Então nós temos que trabalhar, a partir de agora, fortalecendo a comunicação; eu acho que o secretário André Curvello [titular da Secom] traz novas ferramentas, junto com nossa assessoria de comunicação, para que nós possamos estar muito próximos à população, ouvindo o que a população exige e também passando quais são os investimentos e todos os projetos que estão saindo da SSP. Como alguns projetos que visam dar um aumento na sensação de segurança, a exemplo das câmeras. Nós licitamos e estamos na fase de entrega de 600 câmeras para a cidade de Salvador. Então nós queremos explorar um projeto que é a parceria público-privada. Ou seja, a secretaria tem 600 câmeras, vamos trazer a iniciativa privada com suas câmeras, e dar visibilidade a esse sistema para que a marginalidade e a população saiba que aquela área é monitorada, o coronel Anselmo [Brandão, comandante geral da PM] conversou muito bem isso, com as áreas de identificação dizendo que aquela rua pertence à área de tal batalhão, em caso de emergência você ligue para determinado número de telefone. Ou seja, fazer com que haja uma aproximação maior da polícia e da população, e fazer com que a população encontre amparo mais rápido na polícia.
O governador discursou na Assembleia Legislativa da Bahia na última terça-feira (3) e um dos pontos que ele tocou foi o problema da insegurança no interior do estado. E ele falou inclusive que ia cobrar das instituições financeiras também uma contrapartida para que ações, principalmente explosões de caixas eletrônicos, deixem de acontecer. De modo a SSP planeja enfrentar esse problema e como incluir as instituições financeiras? Outra questão é a situação de Itabuna. A cidade, mais uma vez, apresentou índices alarmantes de criminalidade, tem o maior índice de morte de jovens no país. Como a SSP vai enfrentar esse problema, considerando inclusive que Itabuna não tem um setor de acolhimento de adolescentes.
Eu costumo falar, faço isso sempre que eu falo à imprensa, que nós temos que ser cobrados na medida das nossas possibilidades. Eu não vejo ninguém cobrando, por exemplo, o Poder Legislativo, da modificação do nosso processo penal, das nossas leis penais, para fazer frente a nova criminalidade que se apresenta. Digo porque nosso Código Penal é de 1940. Nós trabalhamos com armas e com a lei; a lei serve muito mais para aplicar a reprimenda penal do que para você conseguir recuperar infratores, mas acima de tudo para reprimir a sensação de impunidade. A sociedade, a humanidade eu digo, não é nem só a sociedade, precisa estabelecer regras de convivência. Essas regras vão sendo infrigidas todos os dias e não se tem punição. Nós temos a mesma estatísticas que mostra que determinados municípios baianos tem grandes números de homicídios – e essas estatísticas, sinceramente eu não sei em que base de dados elas se apresentam , porque no Brasil tem vários institutos que coletam dados e a gente não sabe nem de onde vem, porque não há hoje uma base de dados única, nacional, para diferenciar qual é o estado que está menor que o outro. Se compararmos São Paulo e Rio de Janeiro e Rio de Janeiro e Bahia, é a mesma coisa de comparar banana e abacaxi, porque o rio classifica seus dados de uma forma e nós classificamos nossos dados de outra. Mas sem entrar nessa seara, acho que hoje temos que trabalhar em cadeia, em série. Nós temos hoje no Brasil, da prática de um homicídio ao julgamento final, oito anos em média, para que seu autor seja levado e julgado. Em oito anos, esse mesmo autor já pode ter matado 40, 50 pessoas como nós estamos vendo nos dias de hoje. Então quer dizer, a lógica do Pacto pela Vida é essa. Nós trabalhamos, os delegados expõem suas dificuldades, e temos que trabalhar em cadeia para que essa corrente – como o governador Jaques Wagner conceituava, “corrente do bem” – trabalhe em cadeia. Exemplo: casas de acolhimento de menor infrator. Nós temos que ter unidades no interior. Porque se alguns crimes estão sendo praticados por crianças e adolescentes, não basta só fazer a apreensão desses adolescentes e depois não ter lugar para acolhê-los. Não adianta hoje você ter um sistema prisional que hoje não há o bloqueio de telefonia celular. Não adianta você prender o cidadão hoje que vai dar uma hora dentro do sistema prisional e ele está com um celular na mão. E olhe que nós fazemos batidas junto com a Secretaria de Administração Penitenciária todos os dias. E através do Pacto, nós colocamos uma lei na Assembleia Legislativa obrigando as empresas de telefonia celular a instalarem bloqueadores de sinal. A lógica é essa. Não é o Estado que tem que gastar bloqueando celular, até porque a telefonia celular é uma concessão de um serviço público. O Estado deve dizer onde ele quer esse serviço. Não é a lógica contrária. O Estado concede seus serviços e é obrigado a gastar para que esse seu serviço não seja utilizado em determinadas áreas de exclusão, como é no sistema prisional? É falar para as operadoras: “olhem, operadoras, essa área aqui, nesse quadrado, eu não quero que tenha sinal de celular”. Se nós conseguirmos silenciar hoje os presídios brasileiros, nós vamos ter uma diminuição de 60% da criminalidade. 60%. Nós estamos com uma situação em Teixeira de Freitas, como é o caso de Itabuna, já pegando a resposta para sua pergunta, de facções criminosas que operam dentro do presídio. Veja o aumento da criminalidade em áreas onde o sistema prisional se instalou. A região sul do estado é a que mais sofre com isso, a começar de Valença, passamos por Itabuna, por Ilhéus, por Jequié, por Vitória da Conquista e por Teixeira de Freitas. Veja quanto a criminalidade subiu. Desde que determinadas unidades prisionais foram para lá. Por conta de quê? Crime organizado. Quadrilhas especializadas em tráfico de drogas. Tem se aumentado muito nos últimos anos pela questão do crack. Itabuna mesmo, nós temos uma divisão lá, entre duas facções denominadas Raio A e Raio B. Nós fizemos intervenções pesadas em Itabuna, desde 2013; fazemos intervenções dentro do sistema prisional, com parceria com a Secretaria de Administração Penitenciária, tiramos 300, 400 telefones celulares lá de dentro, fazíamos batidas todos os dias. Membros das facções Raio A e Raio B foram transferidos para presídios federais, mas boa parte da composição da massa de manobra dessas quadrilhas são adolescentes. Adolescentes de 16 anos, 17 anos, que matam e que morrem. Por isso volto a dizer, qual a discussão que nós temos que ter hoje, de âmbito nacional? Tudo bem que o sistema prisional não está recuperando ninguém; para alguns que conceituam que essa fórmula de se aplicar a justiça criminal não funciona, mas até hoje não inventaram uma fórmula melhor. Pelo menos, o que até hoje eu vejo não? Vi nos Estados Unidos, as pessoas tem a maior população carcerária do mundo, mas tem os melhores índices de criminalidade. O que nós precisamos fazer é com que o criminoso contumaz e perigoso fique preso. E não fique preso dois, três anos e volte a delinquir, e dentro desses dois, três anos que está preso, comandando a criminalidade de dentro da cadeia. Qual é a lógica? Qual o secretário de Segurança Pública, qual é a polícia, que vai conseguir dar conta, vamos usar uma metáfora, de um barco todo furado, que entra água todos os dias? É como se nós estivéssemos tirando a água e a água entrando. E a lógica do Pacto é essa, vamos botar o remendo onde a água está entrando. Colocamos uma lei na Assemebleia, já foi aprovada, estamos finalizando o período de vacatio legis [vacância da lei, prazo que a norma tem para entrar em vigor] para a aplicação da lei em cima das operadoras; estamos construindo novas unidades prisionais, retirando presos das delegacias; aumentando o rigor dessas unidades prisionais; aumentando o efetivo policial, que é fundamental para o exercício da atividade policial. Agora também fazendo com que o Judiciário tenha maior estrutura.
E esse centro de acolhimento de menores em Itabuna tem um prazo para ficar pronto?
Não compete a minha área, não compete a área da secretaria. Isso está sob a égide da Secretaria de Desenvolvimento Social. E a gente também cobra, incentiva a criação dessas unidades. Vitória da Conquista sofre muito com isso. Tem alguns casos em que os adolescentes são apreendidos e no dia seguinte são colocados em liberdade. Isso aumenta muito a sensação de insegurança, porque o adolescente que pratica 30 furtos, ou 30 roubos, um dia está preso, no outro dia está na rua. E a sociedade, a comunidade, não vai em cima do parlamentar, que não atualizou as leis; ou do Judiciário, que tem lá seus excessos de processo; vai em cima da polícia.
E a questão dos caixas eletrônicos? Os bancos tem que participar?
Da mesma forma. E aí eu pego sua pergunta e ela é muito interessante. Não sei se vocês assistiram o “Bom Dia Brasil”, nesses dois últimos dias. Se não, pegue o Bom dia Brasil de ontem [04/02] e de hoje [05/02]. Eles dedicaram quase 15 minutos para falar de estouro de caixas eletrônicos no Brasil. E aí pegaram São Paulo e Ceará e uma ponta em São Luís, no Maranhão. Nós estamos com o crescimento, esse aqui são os dados, eu até pedi que fizéssemos para mostrar ao governador. Modalidade “arrombamento de terminal de autoatendimento”: em 2012, 177; em 2013, 197; em 2014, 228. Esse ano, nós estamos com uma diminuição de 40% apesar dos estouros estarem acontecendo. No interior, houve um crescimento de quase 35%, até porque são as regiões mais vulneráveis, pela ausência de um efetivo condizente. E o que aconteceu com esse fenômeno criminal? Houve uma diminuição de 60% da modalidade que era chamada de “novo cangaço”, que eles entravam na cidade, durante o dia, fechava a cidade. Nós fizemos reuniões com os bancos e adotamos algumas medidas, a exemplo: o tempo de retardo do cofre, ou seja, a partir do momento que o gerente digita a senha, o cofre só abre 15 minutos depois, isso se chama tempo de retardo. Saímos de 15 minutos e passamos para 30. Ou seja, o gerente precisa digitar a senha, depois de 30 minutos o cofre abre. O que começou a acontecer? Com a melhor distribuição da polícia da Caatinga [Companhia Independente de Policiamento Especializado/Caatinga], em 30 minutos nós conseguimos chegar dentro das cidades. A companhia da Caatinga ficava a 80 quilômetros no máximo de uma série de cidades no entorno. Dava tempo e a quadrilha ficava muito exposta. E começou-se a fazer a redução, a perseguição, a prisão, e alguns desses criminosos passaram a morrer em confronto com a polícia. O que eles descobriram? É por isso que eu falo da dinâmica do crime. O criminoso quando é preso e condenado, ele vai procurar outra modalidade criminosa onde ele consiga ter o lucro e onde ele consiga, primeiramente, a facilidade. Ele não quer se expor, não tem essa mente de querer bater de frente com a polícia em uma ação criminal. Estouro de caixa eletrônico se dá entre 2h e 4h, em cidades do interior, onde o efetivo é de dois ou três policiais. Chegam oito pessoas armadas, conseguem colocar o explosivo, que o Brasil não se tem nenhum controle, e em 5, 6 minutos, ele consegue levar determinada quantia. Às vezes chega a ser até mais lucrativo você explodir três terminais de autoatendimento do que fazer um assalto a um cofre de uma agência. Os bancos começaram a diminuir os valores depois de cobranças da própria SSP, só que nós estamos a quatro anos discutindo com os bancos o porquê da não-instalação de equipamentos que fazem a inutilização de cédulas. Já há dispositivos hoje sendo utilizados em outros países que a partir do momento que o caixa é violado, ele incinera as notas, joga gás dentro da agência, impossibilitando a visibilidade no interior da agência; o tingimento das cédulas.
Porque não aceleraram isso ainda?
Aceleraram, mas nós estamos há quatro anos fazendo termos de compromisso, termos de ajustamento de conduta (TACs), os bancos não cumprem. Os bancos não fazem. Nós reunimos todos os secretários de segurança pública no ano passado, isso foi em junho, ou em julho, estando o ministro da Justiça para fizessem gestões junto à Febraban [Federação Brasileira de Bancos] porque essa modalidade cresceu assustadoramente no Brasil inteiro. No Brasil inteiro, não existe um estado no país hoje que não tem explosão de caixas eletrônicos. Só um exemplo da facilidade com que se utilizam os explosivos: nós tínhamos, anteontem, um caminhão com 4 toneladas – 4 toneladas! – de explosivos sumido. Botamos toda a polícia atrás e descobrimos que o cidadão parou no posto para dormir e desligou o GPS. Sem escolta, sem nada! Hoje para você comprar uma caixa de munição é uma burocracia danada, e olha que nós somos policiais. Você imagina 4 toneladas de explosivo, circulando aí nas estradas? Sem nenhuma escolta. Passamos esses dados para o governador, mais uma vez cobramos ao Ministério da Justiça e o governador agora vai entrar de cabeça nesse processo. Para dizer que nós não estamos fazendo nada, nós criamos uma força-tarefa de repressão a crimes contra instituições financeiras. Em três anos, nós tivemos 1.539 artefatos explosivos apreendidos. Armas, 279, só na mão de assaltante de banco. Quando digo armas, não é “arminha” pequena não, é fuzil, incluindo metralhadoras antiaéreas. Nos últimos três anos, pessoas presas, só em roubo a banco: 394. Pessoas que resistiram à prisão: 77 criminosos foram mortos em confronto com a polícia. Quadrilhas que foram articuladas: 49. E o estouro de caixas eletrônicos não diminui. Hoje, todos os criminosos estão se devotando a essa modalidade. Ou seja, o traficante, quando tem sua droga apreendida, ele vai tirar o prejuízo de sua droga para pagar seu fornecedor de onde? Estouro de caixas eletrônicos. Mas isso já tem sido identificado pela inteligência há três anos. Três anos que nós pegamos traficantes desenvolvendo ações de estouro de caixas eletrônicos. Para comprar droga, para financiar armamento, para diminuir seu prejuízo. Ou seja, ou os bancos adotam medidas de investimento em câmeras externas, nas áreas externas dos bancos, que façam o monitoramento dessas imagens para maior acionamento da polícia, invistam em equipamentos que inibam essa prática delituosa... Como também o governo federal coloque as empresas que trabalham com explosivos para ter um rigor maior no transporte, na guarda, na utilização. Virou hoje muito fácil, você compra uma banana de dinamite muito mais fácil do que comprar um revólver calibre 38. Vide o que nós tínhamos alguns anos atrás com a clonagem de cartão, era uma praga nacional, tinha aquele “chupa-cabra”, eles instalam aqueles equipamentos. Você não ouve mais falar disso. Porque fizeram os investimentos necessários para inibir essa modalidade. Então nós queremos que a coisa ande em conjunto.
O senhor falou sobre a aproximação das polícias Civil e Militar com a comunidade, principalmente a Polícia Militar. Em novembro do ano passado, um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontou que a polícia baiana, tanto civil quanto militar, matou 313 pessoas no estado, sendo 295 casos durante o serviço policial. Há também diversos relatos da população de pessoas que seriam sequestradas, desaparecidas ou mortas em operações, como os casos emblemáticos de Geovane [Mascarenhas de Santana, 22 anos, encontrado morto, esquartejado, em agosto do ano passado, após ser detido por PMs no bairro da Calçada] e de Davi Fiúza [desparecido em outubro do ano passado após ser levado por policiais, segundo relato da família], que até agora não houve nenhum retorno. O que a secretaria pretende fazer para reduzir os casos de violência policial? Como fazer com que os treinamentos de boas práticas cheguem ao operacional, a quem está na rua, no confronto? Existe algum tipo de estratégia para aumentar os mecanismos de vigilância, por exemplo, instalação de câmeras em viaturas, GPS?
Para entrar no assunto, é importante que a gente leia a análise desses institutos de cabo a rabo, porque quando nós pegamos informações compartimentadas, não conseguimos entender o todo. Eu costumo dizer que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, quando ele começa a ranquear os estados, e não explicar como funciona a metodologia, isso traz bastantes discrepâncias. O Fórum tem que dizer quantos estados forneceram esses dados para que eles pudessem ter um ranqueamento digno de registro. Se você pegar lá quais foram os estados que forneceram a quantidade de pessoas que morreram em confronto com a atividade policial você vai ver que vários estados nem apresentam seus dados. Então como é que podemos dizer que a Bahia é o maior? Quando você libera um estudo desses, o que sai na manchete é que a Bahia é o pior estado em termos de mortalidade em enfrentamento. Eu não digo que isso não acontece, é uma preocupação muito grande para o secretário de Segurança. Eu costumo dizer que eu quero uma polícia dura, uma polícia que combata a criminalidade, mas que não seja uma polícia arbitrária. Que não seja uma polícia criminosa. E não é a realidade da nossa polícia. Tenho 99% dos nossos policiais que são pessoas de bem, são pais e mães de família, que se devotam, apesar de todas as dificuldades, a defender a sociedade. Temos uma minoria que infelizmente deturpa a imagem, como em todas as categorias, e que, quando do cometimento de determinados crimes, precisam ter uma reprimenda muito grande. Nós fortalecemos as ações de corregedoria, nós temos cerca de 600 policiais nos últimos quatro, cinco anos. Nós passamos agora até um projeto de lei permitindo ao secretário de Segurança Pública, por delegação do governador, que instaure processo disciplinar contra policial militar, em casos de grande e extrema relevância. Isso é um grande avanço também, no que se refere à instauração e punição de policiais dentro da SSP. Boa parte das nossas viaturas, todas já tem GPS e nós fazemos o mapeamento, o controle de onde essas viaturas trafegaram. Nós estamos instalando, em 200 viaturas, um sistema de monitoramento, de câmera interna, boa parte das viaturas que estão na capital tem esse monitoramento. E com relação ao caso Geovane nós já estamos finalizando a investigação, para divulgação do resultado, com indiciamento dos prováveis autores – até porque a autoria só vai ser determinada na Justiça. E o caso Davi Fiúza da mesma forma, estamos empenhados, pedindo todas as medidas judiciais necessárias; o caso não está parado. Agora volto a dizer que tem homicídios, tem desaparecimentos; até hoje não se encontrou o corpo de Davi para nós confirmarmos que houve um homicídio. Estamos trabalhando com a pior hipótese, mas não podemos confirmar que houve um homicídio. Pode ter tido um desaparecimento, mas estamos trabalhando com a hipótese de homicídio. E o caso não está parado, nós já falamos isso com a família de Davi, nós estamos falando para todas as pessoas que nós podemos, até para a Anistia Internacional, nós estamos trabalhando com todas as ferramentas possíveis. Agora querer transformar o caso de Davi em um exemplo de omissão do Estado? Ninguém está passando a mão na cabeça de policial nenhum. Eu falo isso todos os dias nas nossas reuniões: se nós não separarmos o joio do trigo, todos nós vamos ser tachados de coniventes com práticas delituosas. Não é essa a imagem que eu quero para minha polícia. Eu bato muito nisso. Então se tem 1% que comete seus desvios de caráter, desvios de conduta, vamos atrás desse 1% e fazer questão de demiti-los de forma rápida para que nós, os policiais de bem, não sejamos tachados de criminosos, de arbitrários, por conta desse 1%. Fonte:Bahia Noticias