Você vai conhecer agora a história da Valdenira. Ela passou muito perto da morte. Precisou de um transplante de fígado de emergência. O motivo? Uma doença que ninguém imaginava.
Fantástico: Como era a sua vida até dois meses atrás?
Valdenira Faria (diretora de autoescola): Era bem agitada. Eu saía para trabalhar. Não parava em casa. Era uma correria danada.
Essa correria toda parou de repente. “Eu comecei a me sentir cansada. Uma dor nas pernas. A minha vontade era dormir”, diz Valdenira.
Ela não deu muita bola. Nem queria ir para o hospital. “Cheguei lá, o hospital estava muito cheio. Aí a médica falou: ‘Vai ficar internada. Você está com o fígado dilacerado’”, conta Valdenira.
Três dias depois, Valdenira estava na UTI, correndo risco de vida. “Depois, eu não lembro de mais nada, porque eu já não conseguia mais raciocinar”, diz Valdenira.
“O médico já veio falar comigo: ‘Você tem que reunir família, porque o estado dela é grave’”, lembra o marido de Valdenira, Denílson Faria.
Fantástico: Você estava com muita saudade da mamãe?
Kauê: Sim.
Fantástico: Você queria visitar a mamãe?
Kauê: Queria. Todos os dias. Mas eu não podia todos os dias.
Fantástico: Deu para matar um pouquinho da saudade?
Kauê: É. Só um pouquinho, mas não deu para matar toda.
Assim que a Valdenira foi internada, os médicos pediram vários exames. O resultado de um deles chegou dias depois, quando ela já estava na UTI, e surpreendeu: revelou a causa da falência no fígado dela. “Foi causada pela dengue”, afirma o médico.
Quando o caso da Valdenira ficou grave demais para onde ela estava, ela foi transferida para um hospital especializado em transplantes de órgãos. Só lá foram feitas mais de mil cirurgias desde 2010. Nenhuma delas, no entanto, foi por causa de dengue.
Valdenira mora em São Paulo, estado que bateu recorde no número de casos de dengue em 2015. Desde janeiro, foram mais de 530 mil: quase metade do total do país. Ao todo, 645 brasileiros morreram por causa da dengue este ano. Até agora, 376 deles em São Paulo. Valdenira passou muito perto de ser mais uma dessas mortes.
Fantástico: Você sabia que o estado dela era grave?
Gabriela: Meu pai não me falava. Fui tomar vacina e minha tia que me levou. Ela falou: "Sua mãe tem poucos dias de vida, você tem que rezar".
“Era hepatite fulminante. É mais parecido com uma implosão. O fígado rapidamente se atrofia, diminui de tamanho e deixa de exercer as funções dele. É irreversível”, explica o médico Carlos Baía, do Hospital de Transplantes de São Paulo.
“E foi aí que o médico falou que ia ter que fazer o transplante mesmo. O doutor Baía falou para mim assim: ‘A gente vai colocar você a primeira da fila’. Nisso foi me dando um desespero. Comecei a chorar”, lembra Valdenira.
Foram três dias de espera. “A assistente social chegou, com um sorriso, ela parecia um anjo. E falou assim para mim: ‘Valdenira, saiu seu doador. Você vai fazer seu transplante hoje’. Você fica feliz e ao mesmo tempo e, na mesma hora, você fica confusa”, conta Valdenira.
“Foi terminar 2h30, mas correu tudo bem”, lembra o marido de Valdenira.
O caso, raríssimo, surpreendeu os médicos. “O primeiro caso no mundo de transplante de fígado por causa de hepatite fulminante causado pelo vírus da dengue. O acometimento do fígado na dengue, ele acontece. Normalmente, é um acometimento moderado. Algumas vezes os exames se alteram, mas a pessoa passa por isso e não tem problema nenhum. Ela não tinha história prévia de nenhum tipo de doença hepática, tinha inclusive exames mais antigos que não mostravam nada”, afirma o médico.
É tão incomum que a equipe vai publicar o caso em uma revista especializada. “Os médicos em geral vão saber que o transplante é uma alternativa segura no tratamento dessa situação”, diz Baía.
A equipe médica salvou Valdenira, mas ela também contou com um apoio fundamental: o carinho dos enfermeiros. “Os enfermeiros eram muito legais. ‘Para de chorar, mulher. Para de chorar. Você não vai morrer não’. Depois que eu fiz o transplante, o pessoal da UTI descia para me ver. Os enfermeiros, sabe? Eu achei isso muito bonitinho. Passava lá no quarto. ‘Ah, eu quero saber como você está. Olha como você está bem’”, lembra Valdenira. Pessoas que Valdenira fez questão de reencontrar.
Fantástico: Apesar de toda a gravidade da doença, ela ainda teve sorte?
Médico: Sim. O transplante foi excelente, ficou muito bem.
Fantástico: Você está bem de saúde?
Valdenira: Eu estou.
Gabriela: Como você está agora?
Kauê: Agora eu estou feliz, porque eu tinha medo de perder a mamãe. Eu ficava com medo de ela virar estrelinha, porque tem muita estrelinha no céu, e eu não sabia qual que era.
Fantástico: O que você vai fazer com essa vida nova?
Valdenira: Curtir mais eles e agradecer.
Fonte:G1