Prefeitos de cidades com medidas mais rígidas de isolamento social tiveram menor aumento de popularidade ou piora na reputação na internet, segundo monitoramento da consultoria Quaest. O levantamento relacionou a variação do índice de popularidade digital (IPD) de fevereiro a julho com a intensidade das regras de isolamento social.
O IPD leva em consideração cerca de 150 variáveis, como seguidores, comentários, curtidas, compartilhamento e se as reações aos posts são positivas e negativas no Facebook, Twitter, Instagram, Google e Wikipedia. Um modelo estatístico próprio pondera e calcula a importância de cada dimensão, e os personagens analisados são posicionados em uma escala de 0 a 100.
Já o dado sobre isolamento social é do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), um índice de 1 a 10 (quanto maior mais rígido), de junho, quando muitas regiões começavam ou já haviam reaberto as economias.
A Quaest constatou que, no início da pandemia, prefeitos de cidades com medidas de isolamento mais restritivas melhoraram a popularidade nas redes. Agora, porém, a situação se inverteu. "Nesse momento, quem continuou forçando isolamento e fechamento do comércio perdeu mais popularidade em relação a fevereiro do que quem relaxou mais depressa", diz o CEO da Quaest, o cientista político Felipe Nunes.
"Deve explicar por que os prefeitos estão se sentindo
tão pressionados a reabrir, porque há um movimento de reabertura no país inteiro". Para ele, os prefeitos são os tomadores de decisão mais próximos da população e os mais pressionados, devido ao calendário eleitoral.
Para se ter uma ideia, o índice médio de restrição nas cidades administradas pelos cinco prefeitos que melhoraram mais suas imagens era, em junho, de 3,8 pontos quanto mais alto o número mais restritiva é a política. Já no caso dos cinco que tiveram a imagem mais abalada o número médio era 5,4.
O prefeito teve maior ganho foi o de Vitória (ES), Luciano Rezende, com 74% de melhora no índice de popularidade. No quesito restrição da quarentena, a nota para a cidade é 5. Os demais prefeitos nos primeiros lugares do ranking de melhora na imagem --com variação positiva entre 40% e 60%-- tinham regras ainda menos rígidas, entre 2 e 3 pontos, como Edivaldo Holanda Junior (PDT), de São Luís (MA), Álvaro Costa Dias (PSDB), de Natal (RN), e Marquinhos Trad (PSD), de Campo Grande (MS).
Já quem mais perdeu reputação foi o prefeito de Macapá (AP), Clécio Luis (Rede), que teve piora de 17%. Ali, a quarentena era muito mais dura em junho, com índice de 8,3. O Amapá teve lockdown decretado no fim de maio, atingindo na ocasião o maior índice de isolamento social do país, com 60,7% da população aderindo à medida.
Embora tenham alguma autonomia, em muitos casos de
cisões relativas às restrições foram tomadas pelos governos estaduais. No caso de SP, por exemplo, a prefeitura tinha autoridade para tomar medidas mais restritivas do que as previstas pelo estado, mas jamais teve autorização para ter maior abertura.
O prefeito Bruno Covas (PSDB), de São Paulo, teve a 18ª maior variação, com acréscimo de apenas 8% em sua popularidade digital. O índice que considera o grau de isolamento coloca a cidade em 10º lugar no grau de restrição (5,8 pontos).
No início da pandemia, quando o estado de SP iniciava medidas duras contra a quarentena, Covas era o quarto que mais avançava em popularidade. Depois, a melhora na imagem se estancou --o tucano, em diversos momentos, adotou visão mais rígida do que a exigida pelo estado, embora nos bastidores algumas vezes demonstrasse contrariedade com outras consideradas exageradas.
Para o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV, Covas já se beneficiou das atitudes tomadas no início da pandemia. Ele cita como exemplo a liderança dele nas pesquisas eleitorais. "No começo, os governadores, os prefeitos que tomaram medidas enérgicas e conversaram mais com a população acabaram tendo a imagem melhorada na percepção da população", diz Teixeira.