A freira Irmã Dulce foi proclamada beata em cerimônia realizada neste domingo, 22, no Parque de Exposições de Salvador com a presença de cerca de 70 mil católicos. A celebração foi finalizada, por volta das 18h, com o descerramento da foto oficial da nova beata, a execução do Hino de Irmã Dulce e a condução ao palco das relíquias da religiosa. A freira agora é chamada Bem Aventurada Dulce dos Pobres.
A última etapa do processo que precede a canonização da freira aconteceu após a realização do Rito de Beatificação, que contou com dez fases. Entre elas, o Ato Penitencial, o pedido de inscrição da Serva de Deus Irmã Dulce no livro dos Bem Aventurados, a leitura da Carta Apostólica, a apresentação da imagem oficial da beata, além de queima de fogos e oferta de flores.
O evento começou por volta das 16h45, com a entrada da imagem de Nossa Senhora da Conceição. Em seguida, dirigiram-se ao altar Dom Lourenço Baldisseri, Núncio Apostólico do Brasil; Dom Geraldo Majella, representante do Vaticano na cerimônia; além do Arcebispo Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger.
No palco, foram posicionadas as imagens do Senhor do Bonfim, Nossa Senhora Aparecida e Santo Antônio. A imagem oficial da beata Irmã Dulce também foi colocada no palco e foi descerrada ao final da missa. A procissão contou com 600 padres, diáconos permanentes e bispos.
A presidente da República, Dilma Roussef, chegou ao local por volta das 17h, juntamente com o governador da Bahia, Jaques Wagner. Também participam o ex-governador de São Paulo, José Serra, o ex-prefeito de Salvador, Antônio Imbassahy, o ex-governador César Borges, o vice-prefeito, Edvaldo Brito, secretários como o da Saúde, José Solla, além do diretor-executivo do Grupo A Tarde, Sylvio Simões. Também presente, o prefeito João Henrique foi vaiado.
A atriz, deputada federal e missionária da Comunidade Canção Nova, que pertence à Igreja Católica, Myriam Rios, disse que já interpretou Irmã Dulce nos palcos e agora se prepara para fazer o mesmo no cinema. Ela comentou que o filme está sendo produzido pelas Obras Sociais Irmã Dulce e deve ser lançado no segundo semestre. A atriz informou ainda que conheceu Irmã Dulce pessoalmente. "É com muita emoção que participo da beatificação da melhor mulher e que, com fé em Deus, vai virar santa".
Milhares de pessoas estão reunidas no local, desde o final da manhã, e acompanham a cerimônia. Nem a chuva, que começou a cair por volta das 14h, diminuiu a animação dos católicos. A Polícia Militar confirmou a presença de 70 mil participantes no local.
Os portões do local foram abertos ao meio dia e, enquanto a missa de beatificação não começava, o público entoou cânticos religiosos e agitou lenços brancos estampados com a imagem de Irmã Dulce. A maior parte do público é de crianças, mulheres e idosos.
Por volta das 14h, a festa começou com a encenação de uma peça que relatava a vida de Irmã Dulce e suas realizações, tendo a participação do padre Antônio Maria e mais de 600 crianças e adolescentes com idades entre 6 e 15 anos do Centro Educacional Santo Antônio (Cesa) – complexo de educação das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid).
Ao final da apresentação, o padre Zé Maria contou ter recebido, hoje, um e-mail do cantor Roberto Carlos que dizia: "Sinto-me muito unido a todos nesta festa especial. Quando você cantar esta música, estarei cantando também", disse, referindo-se à canção "Nossa Senhora". O relato provocou gritos de emoção na plateia. Ao som da canção "Alecrim Dourado", os jovens e o religioso se retiraram para a entrada da procissão de franciscanos com a imagem de Santo Antônio, a cuja devoção a freira pertencia.
A dona de casa Maria de Lúcia Ramos, 56 anos, foi ao Parque de Exposições com a filha para vender blusas com a imagem de Irmã Dulce. Elas produziram 100 unidades. A filha, que preferiu não se identificar, está desempregada há um ano. As duas também vão assistir a cerimônia. "Tenho fé em Irmã Dulce porque é uma boa pessoa, muito caridosa. Irmã Dulce é um exemplo de sabedoria que saiu do convento e foi para a rua e viu Jesus Cristo nos pobres", disse Maria. Cada blusa estava sendo vendida a R$ 10.
O vendedor ambulante Honório dos Santos foi ao local vender amendoim. Apesar de evangélico, ele diz que valoriza o exemplo de vida de Irmã Dulce, que era uma pessoa boa e caridosa. A devota Maria das Graças da Silva, 53, técnica em contabilidade, conviveu com Irmã Dulce quando criança. "Eu ia rezar todos os dias quando Dulce estava internada". disse. A mulher, que há cinco meses sofreu caiu da laje de sua residência, foi ao local em uma cadeira de rodas. "Aprendi a amar e servir com Irmã Dulce".
A comerciante Márcia Conceição, 39, estava vendendo fitinhas com nome de Irmã Dulce, mas reclamou do movimento fraco, já que as pessoas não paravam e corriam para entrar no Parque de Exposições. Ela vai voltar ao ponto de venda, depois de acompanhar a cerimônia, para tentar vender a mercadoria.
Maria José dos Santos Mendes, que conheceu Irmã Dulce há 26 anos, veio à cerimônia com a caravana de São Sebastião do Passé. Seu primeiro contato com a freira foi quando sua mãe teve um problema do coração e ficou internada durante quatro meses no Hospital Santo Antônio.
Sempre que ia visitar a mãe, Maria José aproveitava para ajudar no trabalho das obras. O contato com a religiosa, afirma, a reaproximou da religião. "Fiquei mais católica, antes, não frequentava as missas direito. Depois, passei a ser mais atuante na religião".
Maria José contou que pediu à Irmã Dulce para que o marido de 81 anos, que sofre de cálculos renais, melhorasse para que ela pudesse comparecer à cerimônia. Ela disse que o homem de fato melhorou e ela pode participar do evento, quando irá pedir a melhora do marido e empregos para os netos que estão desempregados.
A TVE (www.irdeb.ba.gov.br) e a Canção Nova (http://tv.cancaonova.com ) transmitiram ao vivo a celebração, assim como os portais: www.irmadulce.org.br/bemaventurada e www.arquidiocesesalvador.org.br.
Miraculada - Já no Parque de Exposições, a miraculada (que recebeu o milagre) Cláudia Cristina Araújo, se emocionou ao falar da graça que recebeu de Irmã Dulce, conforme comprovação do Vaticano. "Estou muito agradecida. Confio em Deus e não sabia da história de Irmã Dulce, mas o milagre é incrível. Por tudo que passei, não era para eu estar aqui hoje. Basta crer, que tudo é possível. Eu acredito totalmente no milagre", disse, entre lágrimas.
Pela manhã, Cláudia visitou as Obras Sociais Irmã Dulce ao lado da família. Com o marido, Francisco de Assis Araújo e os filhos Francisco Junior, 21, e Gabriel, 10, ela agradeceu a cura desejada e apresentou para os familiares um pouco do trabalho realizado pelo Anjo Bom da Bahia.
No local, amigos e outros parentes recém-chegados de Malhador (SE) – cidade onde Cláudia vive –, foram cumprimentá-la. Eles visitaram a Capela do Convento Santo Antônio, a Capela das Relíquias (que guarda os restos mortais da freira) e o Memorial, com peças, roupas e acessórios utilizados por Irmã Dulce em vida. “É muita emoção. Estou muito gratificada”, afirmou Cláudia, emocionada.
A sobrinha de Irmã Dulce, Maria Rita Lopes Pontes - superintendente das Osid - que chegou ao local no começo da tarde, se emocionou no momento em que crianças encenavam a visita de João Paulo II à freira. Uma criança representou o falecido papa dentro do papamóvel. Ela preferiu não dar entrevistas enquanto as crianças se apresentavam junto com o padre Zé Maria que entou cântico onde dizia que Irmã Dulce era "o anjo azul dos alagados".
FONTE:ATARDE.COM.BR
