Um fato recente acontecido na cidade e publicitado por uma emissora de rádio local e o site BahiaJá, está causando um rebuliço na população, com comentários, até certo ponto, irritadiços e pedindo que as autoridades locais – Poder Público e Ministério Público - tomem as devidas providências para que o mesmo seja revertido com uma certa urgência e seja restabelecida a ordem.
Trata-se de uma grade (cerca metálica) que está sendo colocada pela Arquidiocese de Serrinha, em frente à Catedral Basílica (Igreja) da cidade, situada na Praça Miguel Carneiro, promovendo um fechamento da via pública, e impedindo que os transeuntes e veículos possam transitar normalmente por ela, se assim for levada a termo.
Recentemente, ouvimos um áudio em whatsapp de uma entrevista fornecida a uma rádio local, por um padre de uma paróquia da cidade, dizendo que: “[...]eu só quero informar uma coisa: esse ‘acordo’ que foi feito, foi aprovado pela Câmara de Vereadores. E é sabido que os vereadores são os representantes do povo. Logo, se foi aprovado de comum acordo com os vereadores e o nosso prefeito, o povo está sabendo, sim. Não são os nossos representantes? Minha gente, usemos de sabedoria, por favor (...) nós não queremos criar confusão com a sociedade de serrinha, pelo contrário; como igreja, nós queremos proporcionar, repito, mais um ambiente onde os nossos jovens possam sentar-se à noite, onde eles possam falar da vida, falar dos seus sonhos, namorar (...). Então, eu quero pedi ao povo serrinhense, que, antes da gente fazer uma tempestade em um copo d’água, vamos refletir, vamos se informar...é melhor pra todo mundo[...]”
Interessante ficarmos atentos ao excerto retirado da fala do pároco no rádio, e que está ipsis verbis no áudio referido, quando ele chama a atenção a um “acordo” feito entre a Igreja, Câmara de Vereadores e o Prefeito daquela gestão.
Ora, se esse acordo foi feito, deve ter sido, suponhamos, nas bases da Lei Municipal nº 867/2010 que foi promulgada em 26 de outubro de 2010 que “Dispõe sobre a criação do Programa adote uma Praça no Município de Serrinha e dá Outras providências”. Logo em seu Capítulo II (Do Convênio) no Artigo 3º, inciso I, diz que: “o adotante em hipótese alguma poderá impedir aos cidadãos o direito de ir e vir e/ou frequentar”.
E mais adiante, no Capítulo V (Das Disposições Finais) no Art. 8º, da referida Lei, diz que: “ Todo e qualquer cidadão que sentir-se constrangido por qualquer ação do adotante, poderá denunciar ao Poder Executivo, que tomará as providências cabíveis, após a apuração dos fatos”.
Nesse “embrôlho” que já se formou diante da população serrinhense e a representação da igreja – possivelmente a Arquidiocese -, já que o ente adotante da Praça, tem que ser por força da Lei, qualquer entidade privada (no caso da igreja) ou empresas e até pessoas físicas, as duas partes têm que esclarecer devidamente à população o que foi acordado. Até porque o interesse é da comunidade envolvida que deseja uma melhor explicação desse convênio (conforme prescreve a Lei) e “acordo” designado pelo pároco.
Se, de fato, esse convênio foi firmado entre a igreja e a câmara de vereadores e o próprio ex-prefeito, já que o padre o mencionou em sua entrevista, ele deve estar calcado nos regulamentos da própria Lei e não podem ser ignorados, principalmente pelo ente adotante da praça, no caso a igreja.
E nos parece que o “desentendimento” entre a população e a igreja, está exatamente na posição da mesma querer extrapolar os limites do convênio entre a prefeitura e ela própria. Se o convênio afirma no artigo 3º, que o ente adotante não pode ir de encontro a um princípio constitucional do cidadão, de ir e vir, isso não pode ser desconsiderado por ela.
O fato da mesma ter aceitado as bases do convênio – se é que houve, repito -, cabe a ela que está sendo cobrada pela população, mostrar a documentação porque ela de fato existe, já que a Lei, no caput do artigo 3º, assim exige, para a cessão do direito de adotar a praça e dá as explicações devidas.
Em sendo assim, feita a adesão da igreja para cuidar dos jardins, bancos, iluminação, etc, da Praça Miguel Carneiro, dando-lhe um ar de beleza, já que hoje ela entristece a todos nós serrinhenses pelos maus tratos, por tantos anos de administração pública, desde a gestão do então prefeito Paulino Santana - se não me falha a memória -, que foi quem deu os primeiros passos de embelezamento da praça, a ela deverá estar restrito, apenas, o espaço interno da praça para a sua adoção de melhoramentos. E só.
Até então, ela vinha e vêm sendo depredada deliberadamente por vândalos e transeuntes em geral, sendo um foco de drogas, sujeiras e até prostituição, e também um ambiente à noite, até certo ponto perigoso, para quem nela transita e fica exposto a assaltos e furtos.
A gestão anterior da prefeitura, construiu uma “academia popular” com recursos oriundos do governo federal, que demorou anos a fio para ser inaugurada, o que só aconteceu no final da sua segunda gestão. E hoje, nem sequer, ela está funcionando regularmente e já existe uma placa na porta da mesma, dizendo que as atividades foram transferidas para o Ginásio de Esportes que fica do outro lado da cidade, trazendo um transtorno para as pessoas dos bairros próximos à praça, com certeza, pessoas mais necessitadas desse suporte físico e que agora terão que se deslocar para tão longe. Por que isso? Quem fez essa substituição? Não dá para entender. Seria já por conta desse acordo? Não sabemos.
É louvável a atitude da Arquidiocese em querer adotá-la nos princípios que a Lei está arregimentando. Contudo, não pode é querer vedar aos transeuntes e veículos que trafegam na rua que circula a praça como um todo, e que passa em frente à catedral, o direito dos cidadãos terem livre acesso, sem grades que os impeçam trafegar.
Dizer que esse espaço será aproveitado para área de conversas e lazer como o padre acima mencionou, é óbvio que ele deve estar se referindo ao espaço interno da praça (jardins, bancos, etc) e não a área em que eles estão se apoderando indevidamente. Em frente à catedral!
Pensamos, que nesse instante de tantas aberrações morais que estamos acompanhando em nosso país, especialmente pela classe política, jurídica e até executiva, não podemos admitir que um segmento religioso de tanta importância para os seus fiéis, possa, nos dias atuais, em pleno século XXI, dá um atestado de força e poderio, tão comum aos tempos passados, em que a igreja torturou e considerava heréticos e fadados à morte, todos aqueles que não acreditassem em seus desígnios, fazendo com que o próprio Papa João Paulo II no seu pontificado, viesse a “pedir perdão” à humanidade pelo período negro da história, perpetrado pelos seus antigos representantes durante a Inquisição.
E hoje, quando temos um Papa da Igreja Católica – já que existe o da Igreja Ortodoxa, o querido Francisco, adotando medidas de humanidade para todos os povos, pregando a humildade, aproximação e até a tolerância entre as religiões, não podemos entender que a Cúria Episcopal da Diocese, possa dá um passo atrás desses exemplos do Papa Francisco, promovendo irritabilidade e até ações judiciais do povo que não admitirá a violação dos seus direitos.
E dela não podemos esperar isso, já que a igreja sempre esteve e está à frente das reivindicações da população carente e mais necessitada em todos os momentos políticos do nosso país. Seria um grande contrassenso.
Lembramos com alegria, dos padres que honraram a paróquia da Igreja Nova como o próprio Demócrito Mendes de Barros – que foi o iniciador da construção da atual catedral -, e que tem hoje, parte grandiosa da sua biografia, numa tese de doutorado transformada em um livro, lançado por um Professor Doutor de nossa terra e que muito nos orgulhamos.
Lembrar do Padre Lucas Di Nuzzo, um alegre e entusiasta defensor dos seus fiéis, e que trazia em seu semblante e no seu carisma, o respeito mútuo a todos os segmentos religiosos da cidade e às pessoas que o procuravam, é um motivo de grande satisfação. Por ele, sempre tivemos um carinho especial e o rememoramos com saudades a sua passagem em nossa cidade.
E como tivemos o prazer de conhecê-lo, pessoalmente, não poderíamos deixar de reverenciar o Padre Nicássio Pozzuelo que tem uma fala carinhosa e respeitosa por todas as pessoas que o cumprimentam. Era polido e muito solícito, quando o conhecemos. Com certeza, deve continuar sendo.
Acreditamos, com sinceridade, que esse fato que está trazendo insatisfação a uma grande parcela da população serrinhense, não poderá ser levado à frente pela Arquidiocese de Serrinha, em respeito que ela deve ter a todos os cidadãos desta terra e não só aos seus fiéis, que merecem de todos nós, muita consideração. Vamos esperar que o bom senso prevaleça.Fonte/Texto: Genilson Araujo Souza(facebook-fotos)